O estudo de mundos fantásticos pode ser um bom exercício para a análise da realidade objetiva, ao mesmo tempo que desenvolve criatividade e imaginação, diverte e explora emoções e sentimentos.
Bairro do Limoeiro da Turma da Mônica, País das Maravilhas da personagem Alice, a Terra Média do Senhor dos Anéis, Gotham City de Batman. Esses são alguns exemplos de espaços inventados para compor o universo de cada obra, ainda que possam se pautar na realidade objetiva. Gotham City, por exemplo, é claramente inspirada em Nova Iorque. Esses espaços podem ser classificados como “fantásticos”, pois só existem na imaginação, na fantasia. Daí decorrem o que podemos chamar de Geografia fantástica.
Embora existam trabalhos na Geografia acadêmica sobre mundos e mapas fantásticos, não existe uma subárea chamada “Geografia fantástica”. Usamos a expressão com base no livro “Geografía fantástica”, do ensaísta e professor de Literatura chileno Waldemar Verdugo Fuentes.
A utilização de mundos fantásticos em atividades escolares pode desenvolver diversas competências e habilidades de crianças e jovens. Ora, mas o trabalho com os conteúdos escolares não deve partir da realidade dos alunos estudantes, analisando, por exemplo, a comunidade, o bairro, o país?
Sem dúvida, o chamado “espaço real”, em suas diferentes escalas (do local ao global) deve ser trabalhado desde a Educação Infantil até o Ensino Superior. Isso, no entanto, não invalida o estudo de “espaços fantásticos”, já que da realidade das crianças e jovens fazem parte os jogos eletrônicos (games), o cinema, os contos literários, as animações e tantos outros tipos de expressões artístico-cultural cujas histórias ou roteiros incluem lugares reais e fictícios.
Muitas intencionalidades pedagógicas podem estar por trás do trabalho com a Geografia fantástica:
>> Desenvolver a criatividade e a imaginação dos estudantes.
>> Trazer o universo de lazer dos estudantes para o cotidiano escolar de forma sistematizada.
>> Promover atividades interdisciplinares envolvendo Geografia, Arte e Língua Portuguesa, por exemplo.
>> Incentivar os estudantes a realizarem leituras de contos, romances ou quadrinhos que deram origem a jogos e filmes e outras criações midiáticas.
>> Refletir sobre como cada personagem se relaciona com os espaços criados.
>> Desenvolver o pensamento lógico.
Além dos itens acima, a leitura e a produção de espaços fantásticos podem ser uma excelente oportunidade de crianças e jovens representarem suas angústias, medos, desejos, alegrias e tantos outros sentimentos que surgem naquilo que representam e como representam.
E, considerando especificamente objetos de estudo da Geografia, no trabalho com mapas fantásticos podem ser desenvolvidas as noções de legenda, proporcionalidade, escala cartográfica, a relação de personagens com cada território, entre outros.
Todo mapa, seja da realidade objetiva ou fantástica, deve comunicar ao leitor as informações de forma eficiente. Para isso, é indispensável usar adequadamente cores e formas, pensar de forma coerente a posição dos elementos e a distância entre lugares e objetos, analisar o tamanho da área representada, entre tantos outros aspectos. Assim, mesmo que mapas fantásticos sejam livres das regras cartográficas dos mapas da realidade objetiva, acabam por envolver noções para a alfabetização cartográfica, a representação do espaço, aspectos de uma paisagem, etc.
Além do uso de representações prontas (ver final desta página), devemos oportunizar momentos para crianças e jovens soltarem sua imaginação nas produções próprias a partir de referenciais daquilo que leem, assistem ou jogam e, também, de histórias de suas autorias.
A pesquisadora Deyse Fabrício trabalhou com estudantes do 1º ano do Ensino Médio atividades nas quais incluíam a produção de mapas de mundos fictícios pelos estudantes, como esse ilustrado ao lado.
Citamos, a seguir, alguns mapas fantásticos para uso escolar ou para momentos de diversão.
E, por que não juntar os dois: escola e diversão ao mesmo tempo?
Já do livro “Pixar Mapas: um atlas mágico dos filmes da Pixar que conhecemos e amamos” temos o clássico Toy Story, que atrás do mapa vem informações muito interessantes sobre a cidade fictícia e seus personagens.
Referências para trabalhar com Geografia Fantástica:
>>> CALVINO, Ítalo. As cidades invisíveis. Rio de Janeiro: O Globo; São Paulo: Folha de São Paulo, 2003.
>>> FABRÍCIO, Deyse Cristina Brito Fabrício; CAZETTA, Valéria. “Cartografias e Criação de Mundos Fictícios: Leituras Outras na Educação Geográfica”. In: LINHA MESTRA, N.34, P.8-17. Disponível em: HTTPS://DOI.ORG/10.34112/1980-9026A2018N34P8-17, JAN.ABR.2018.
>>> NUNES, Rafael Silva. “Por uma geografia fantástica: as representações do “não mundano””. In: GeoPUC – Revista da Pós-Graduação em Geografia da PUC-Rio Rio de Janeiro, v. 9, n. 16, p. 64-81, jan.-jun. 2016.
>>> Manguel, Alberto. Guadalupi, Gianni. Dicionário de lugares imaginários. São Paulo: Companhia das Letras, 2003.