Entrevistando

Entrevista com Patrícia Auerbach, autora, e Roberta Asse, ilustradora do livro Os Irmãos.

Por FTD Educação

Estimativa de leitura: 10min 44seg

9 de fevereiro de 2022

A autora Patrícia Auerbach e a ilustradora Roberta Asse falam sobre suas trejatórias e também sobre as inspirações para escrever e ilustrar o livro Os Irmãos, que conta as doçuras e agruras de três irmãos, o mais velho, o do meio e o mais novo, em uma narrativa leve e divertida. Confira, com exclusividade, detalhes sobre o livro e a escolha do projeto inovador, com três cadernos diferenciados que ajudam a contar essa história pra lá de bacana! 

Confira a entrevista da autora Patrícia Auerbach: 

Pode falar um pouco sobre a sua formação e sua trajetória como escritora?   

Eu sempre gostei de desenhar e precisei escrever para elaborar as coisas que aconteciam comigo. Era uma tentativa de tirar os pensamentos da cabeça e organizá-los fora de mim, para liberar espaço para novas ideias e pensamentos. Nem pensava em fazer disso uma profissão. Foi só quando meus filhos nasceram e eu conheci os livros ilustrados que me apaixonei pelo formato e comecei a escrever com palavras e imagens ao mesmo tempo. Aí não parei mais. A maioria das ideias já nasce com imagem. Assim, vou transformando o que antes ia só para os meus caderninhos, em livros ilustrados que chegam às mãos de muitos leitores. Às vezes, como foi o caso de Os irmãos, eu chamo algum ilustrador para fazer o livro comigo e aí as imagens acabam mudando ao longo do processo, o que é uma delícia.  
 

Qual foi a inspiração para escrever o livro?   

É divertido perceber como certas coisas se repetem em todas as famílias. Sou a caçula na minha casa e me divirto muito vendo meu filho mais novo dizer frases e experimentar sentimentos que conheço tão bem. Quando decidi escrever esse livro, criei uma pesquisa e mandei para várias crianças a minha volta. Elas adoraram responder, e as conversas que vieram dali foram divertidíssimas. Isso me deu a certeza de que o assunto interessava às crianças e que todas tinham uma opinião forte sobre o seu lugar na família. Foi dessas conversas e da minha experiência como irmã, mãe e tia que vieram as histórias de Ocaçula, Odomeio e Omaisvelho.  
 

O que veio primeiro: o tema do livro ou a ideia do projeto gráfico inovador, em que cada irmão (Omaisvelho, Odomeio e Ocaçula) tem seu próprio caderno?   
 

Quando criei o texto, queria que ele tivesse três cadernos com formatos diferentes, mas não fazia ideia de como resolver isso graficamente. Foi aí que entrou a Rô — e é por isso que só ela podia ter ilustrado esse livro. Ela achou uma solução incrível para o projeto gráfico e deu um valor diferente para a obra. Parceria é isso! Um leva e traz de ideias, uma completando o pensamento da outra.   

 
Como o projeto gráfico, de 3 livros em 1, ajuda a contar cada história?   

O projeto gráfico representa fisicamente o que somos e sentimos dentro do núcleo familiar. Pessoas independentes, mas parte de um todo indissociável!   

Você é irmã caçula. Nasceu pouco mais de um ano depois de seu irmão mais velho. O que trouxe da sua experiência pessoal para a obra?   

TUDO! Se eu não fosse a caçula eu jamais teria pensado em escrever sobre isso. O livro é sobre esses três meninos, mas é também sobre a minha lembrança dos livros da escola rabiscados que eu recebia depois de o meu irmão usar e sobre tantas outras situações em que senti inveja, raiva ou alegria por ser a filha mais nova na família. Só sei escrever sobre o que sinto, e eu me sinto caçula há muito tempo!   

 
Na sua opinião, quais as dores e as delícias de ser Ocaçula, Odomeio e Omaisvelho?   

Cada um tem as suas histórias, e acho que o livro mostra bem que não tem um lugar melhor para ocupar na família. Todos têm vantagens e desvantagens. Acho que o que mais me marcou nas conversas com as crianças foi uma menina, muito querida, que é a filha do meio mais bem resolvida que eu conheço. Quando perguntei o que ela achava de ser a irmã do meio ela, respondeu sem titubear que o meio era o melhor lugar. E quando eu, intrigada com a resposta dela, perguntei por quê, ela disse faceira que o meio era o lugar do recheio e que o recheio era sempre a melhor parte!!! Foi daí — e do meu amor por bolachinhas! — que saíram as dedicatórias do livro, comparando os irmãos a bolachinhas decoradas e únicas, recheadas e incrivelmente saborosas, ou as últimas do pacote.  

 
E o filho único, ou melhor, a filha única (Aúnica), que assina a quarta capa, vai ganhar um livro também?   

Quem sabe?!   

 
Como esse tema universal, de grande apelo e identificação imediata, e que permite múltiplas abordagens, pode ajudar familiares e professores a conversarem com crianças e adolescentes?   

A ficção é uma excelente porta de entrada para conversas especiais no ambiente familiar e na escola. Especialmente para crianças, que muitas vezes acham mais fácil falar do personagem do que usar a primeira pessoa. Leitores usam histórias para pensar sobre a sua própria experiência, e as crianças são boas nisso. Sempre têm um causo para contar, um comentário para fazer. Acho que, por ser um tema universal e trazer à tona pontos de vista tão diferentes, esse livro pode ser gatilho para discussões que extrapolam os limites da família: o olhar do outro, a maneira de o outro ver o mundo e como ele se sente a partir desse lugar. O livro é atemporal e discute empatia de uma forma leve e divertida. A ficção fala sobre uma família, mas é uma história de relações humanas — e essas relações, bem sabemos, estão por toda parte.  

Agora, confira a entrevista da ilustradora Roberta Asse: 

Pode falar um pouco sobre a sua formação e sua trajetória como ilustradora?   

Sou arquiteta formada pela FAU-USP. Na faculdade, me encantei com a comunicação visual e o design gráfico. Trabalhei com identidade visual até ter a oportunidade de fazer meus primeiros livros, a maior parte deles vindos de iniciativas independentes, coordenados por empreendedores culturais que me ensinaram muito. Fui incentivada por eles a ilustrar cada vez mais, conforme apresentava rafes para outros ilustradores trabalharem.   

Adoro desenhar! Desenho muito desde criança. Então, me inscrevi e fiz muitos cursos livres de ilustração para criar narrativas no meu desenho. Ilustrar é contar histórias além do texto, e estou sempre procurando aprender mais sobre isso.  

Durante esse processo, trabalhei textos antigos que havia escrito para crianças, e senti uma necessidade forte de conhecer mais as crianças e as infâncias. Em paralelo aos cursos de ilustração, fiz cursos de antropologia da infância e viajei para escutar e aprender com crianças de vários lugares do Brasil. Dessa experiência nasceu o projeto Criadeira de Histórias, em que me coloquei como autora e ilustradora.  

 
Qual foi a inspiração para escrever o livro?   

A inspiração, para mim, vem sempre da observação das crianças. Quando Patrícia me convidou para esse projeto lindo, me contou que o texto tem muito de falas de crianças com quem ela conversou, sobre como é ter irmãos. Fiquei imaginando a diversão que ela teve ao criar — Patrícia tem um humor incrível — e as referências que trouxe dela mesma e dos filhos. Passei a olhar e a conversar com meninos nas escolas, na rua, nas mídias, como se fossem os irmãos, imaginando que idade teriam e do que gostariam, observando roupas e cortes de cabelo… Fui desenhando cada um e mostrando para a Patrícia, até encontrarmos uma linguagem e identidade para nossos meninos, de maneira que pudessem representar muitos de nós.   
 

Você é a irmã mais velha. Quando seus irmãos vieram – o do meio e o caçula –, como era a relação de vocês? Quais são as semelhanças da sua história pessoal com o livro? E as diferenças?   
 

Sim, a menina mais velha de dois meninos. Acho que por vezes dei uma de mãe, procurando cuidar deles, e outras vezes quis ser a irmã cuidada (receber proteção), por ser a única menina. Eles me achavam brava. Eu gostava, e chutava a gol mais forte que eles.   

Uma cena semelhante no livro é quando Omaisvelho topa qualquer brincadeira: me lembro de ser adolescente e me divertir muito brincando com os meus irmãos, ainda crianças. E eles admiravam meus trabalhos de escola, como acontece no livro.  

A diferença é a descoberta de segredos. Eles costumavam me esconder as travessuras que faziam, pois achavam que eu era “a certinha” e contaria para nossos pais.  

 
Na sua opinião, quais são as dores e as delícias de ser Ocaçula, Odomeio e Omaisvelho?   

Essa é uma das partes que mais admiro no livro, por causa do jeito descontraído e divertido que Patrícia conseguiu trazer as dores e delícias. Das dores, para mim, adorei ler e ilustrar Ocaçula nunca usar roupa nova, Odomeio não ter atenção quando aprende a ler e Omaisvelho ter que ajudar os adultos e não ter tempo para nada.  

Das delícias, Ocaçula ser o mais ouvido, Odomeio ser disputado para as brincadeiras e Omaisvelho ser admirado no palco por toda a família.  

 
As ilustrações usam diversas técnicas: colagem de estampas, desenho, textura de fundo, foto em alto-contraste e lettering. Por que escolheu trabalhar com essa variedade de materiais e técnicas?   

A busca pela linguagem da ilustração partiu da vontade de criar representatividade, de maneira que muitos leitores possam se identificar com os personagens. Entendi que para isso ajudariam as simplificações visuais: os recortes e colagens em formas anguladas, encaixados com os rostos, braços e pernas desenhados em fios de traço preto.   

Procurei estabelecer semelhanças entre eles, afinal são irmãos. A idade de cada um aparece no formato dos rostos e nos cabelos, uma das partes mais divertidas de observar na criançada por aí.   

Para os cenários, a ideia é a mesma, com fotos e letterings que contextualizam os espaços. São quase sugestões, para que também possam ser lugares de todos, transformados na imaginação ou na memória do leitor.   

 
Como as ilustrações e o projeto gráfico dialogam, para encantar os pequenos leitores?   

Quando Patrícia e eu conversamos sobre o livro, conversamos bastante sobre a questão de a pessoa pertencer à família e ao mesmo tempo ser única. Falamos de quanto isso permeia as relações entre irmãos. Imaginei um livro que dialogasse com isso, então imaginei essa capa grande que une e abriga três livros independentes. Um livro para cada irmão, cada um com seu formato, unidos pela estrutura da capa articulada, ajustada, brincante, bem como pela linguagem gráfica. Três livros e um livro só ao mesmo tempo.  

Você pode ler na ordem que quiser. Abrir, fechar, voltar, descobrir os versos das páginas, encontrar cada irmão no livro do outro, achar a capa de cada um, ler do começo ao fim sem parar nem separar. Ler de novo, lembrar-se de você, de seus irmãos e de outros irmãos que já conheceu.  

 
Por que escolheu encerrar cada livro com uma vinheta de bolacha?   

Em uma reunião da equipe toda da FTD, alguém comentou que um dos irmãos se achava a última bolacha do pacote. Estávamos pensando em dedicatórias quando Patrícia pegou a brincadeira e propôs: vamos oferecer para os irmãos uma bolacha, um presente que os caracterize? Todos gostaram da ideia e refletimos juntos: Quem é qual bolacha? Embarcamos na brincadeira. A última bolacha do pacote ficou sendo Ocaçula. Omaisvelho é uma bolacha em formato de estrela, toda decorada e caprichada, o primeiro. Odomeio virou bolacha recheada, porque o recheio é a parte mais gostosa!   

  

  

Veja uma prévia da obra: 

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