O Brasil, assim como inúmeros outros países, teve de fechar suas escolas por certo tempo para evitar o agravamento do quadro epidemiológico associado à COVID-19. Mas dois fatos chamaram a atenção no nosso caso e nos distinguiram de nações de mesmo nível de desenvolvimento que o nosso: demoramos mais para reabrir e não mantivemos um atendimento diferenciado para as crianças e para os jovens em situação de vulnerabilidade.
Mesmo assim, alguma estratégia de aprendizagem em casa foi criada por quase todas as escolas públicas e particulares. Em muitas delas houve uma combinação de ensino por meio de plataformas digitais ou televisão, com envio às residências de materiais impressos para preenchimento do estudante e posterior correção pelo professor.
Na verdade, o que foi feito mostrou-se importante, ao mitigar parte dos danos causados pelo prolongado período de distanciamento das salas de aula, mas não impediu um brutal crescimento das desigualdades educacionais. Afinal, a conectividade, a presença de equipamentos, livros e, em especial, dos pais em famílias mais afluentes e escolarizadas, permitiram que a aprendizagem prosseguisse mesmo que com certa fragilidade, o que não ocorreu, em larga medida, com crianças e com jovens em lares mais modestos.
Mas, independentemente de classe social, os pais tiveram um contato com os educadores bem mais frequente e intenso que no período anterior à pandemia. Para tanto, receberam orientações por WhatsApp ou telefone, material impresso com sugestões enviadas junto com cestas de alimentos, reuniões virtuais ou conversas por telefone.
Agora, com o ano letivo praticamente acabando e as aulas, em boa parte do país, tendo voltado presencialmente para todos, é chegado o momento de se fazer um balanço. Sim, foi muito triste tudo o que ocorreu e as perdas foram terríveis em vidas, em empregos, em rendas e em aprendizagens.
Mas crises são também oportunidades para quebrar paradigmas e transformar o que precisa ser mudado. Voltaremos em 2022, depois de merecidas férias para mestres e estudantes, para as mesmas escolas e o mesmo processo de ensino de 2019? Não creio.
Nós adultos aprendemos muito nesse processo. De uma maneira ou de outra, passamos a valorizar muito mais o trabalho dos professores, a entender a complexidade da sua profissão e descobrimos que educar crianças é um trabalho de equipe unindo escola e família que pode e deve prosseguir quando as férias de verão acabarem. E para que isso funcione bem, o diálogo que ocorreu nessa triste emergência, deve ser retomado agora de forma ainda mais estruturada e consistente. Nossos filhos merecem!