Após um ano e meio de escolas fechadas no Brasil e de um retorno escalonado às aulas presenciais, precisamos falar dos desafios e do papel do professor com mais seriedade. Foi, afinal, um exército de docentes que, com o fechamento das escolas, foi para a linha de frente, deu aulas em plataformas, televisões, rádios, preparou e corrigiu materiais autoinstrucionais. Agora, com a volta às aulas presenciais em sistema de rodízio, os professores precisam se certificar de que os alunos que ficam em casa, enquanto outros estão na escola, recebam atividades escolares e aprendam, num contexto de grandes perdas de aprendizagem. Além disso, embora já houvesse antes desigualdades educacionais importantes, o desnível entre os alunos se acentuou, com alguns tendo tido a chance de aproveitar melhor o ensino remoto que outros.
Muitos mestres se sentiram exaustos frente ao acúmulo de tarefas, para as quais não se sentiam preparados. No entanto, de acordo com pesquisa recente do Instituto Península, embora no início do fechamento das escolas a sensação de impotência tenha sido grande, vários profissionais da educação revelaram ter sentido, com o passar do tempo, maior domínio sobre as novas formas de ensino remoto que tiveram que ser adotadas.
Os pais dos alunos acabaram sendo expostos, de uma maneira ou de outra, aos desafios que os mestres vivem a cada dia e puderam, assim, olhar o trabalho deles de outra maneira e valorizá-los profissionalmente.
Ao pensar nos legados da pandemia, afora todo o sofrimento causado pela Covid e por sua má gestão no país, fica claro que há uma oportunidade de incorporar, mediante boas políticas públicas, algumas lições aprendidas. Uma delas, talvez a mais importante em educação, é que o professor é um profissional, e sua formação inicial e continuada deve olhar para o processo de ensino, sua prática, como uma dimensão extremamente importante para que ele se sinta preparado nas mais diferentes situações.
Em certo sentido, foi o que Michael Fullan, pesquisador de educação canadense, trouxe numa apresentação feita recentemente a brasileiros. Segundo ele, para construir uma educação para o futuro, que assegure aprendizado profundo, é necessário estabelecer, entre outras medidas, maior valorização dos professores, critérios rigorosos para acesso a cursos de formação inicial, programas que, de fato, possam prepará-los para sua prática, e um trabalho colaborativo dentro de cada escola.
Sem isso, segundo o educador e especialista em políticas educacionais de Ontário, acabaremos voltando à educação de 2019, com suas limitações e inadequações para o mundo em que vivemos.