Entrevistando

Entrevista com Guilherme Kiehl Noronha e os desafios de Mapinguari

Por FTD Educação

Estimativa de leitura: 5min 10seg

3 de junho de 2022

Responsável pelo projeto gráfico e editorial, Guilherme conta como foi a concepção da publicação, montagem e coordenação da equipe. Também falou do processo editorial, parcerias e curiosidade dessa obra já tão aclamada por crianças e adolescentes. 

Como nasceu o livro Mapinguari? Foi uma encomenda ou o material chegou pronto até a ONG? 

Foi uma encomenda bastante específica. Minha relação profissional com o WWF vinha de anos antes da oportunidade de editar o Mapinguari e, antes do surgimento dessa iniciativa, eu já havia lançado a ideia para o Flávio Quental, do WWF, e ele gostou bastante. Um dia ele me ligou falando “lembra daquela ideia de fazer uma HQ? Vamos?”. A partir daí, começamos a dialogar para casar as possibilidades de desenvolvimento com a ideia dele para utilização desse material nas comunidades onde atuava com a ONG. 

O Mapinguari surgiu assim: com o intuito de levar uma história em quadrinhos para os jovens das comunidades rurais e extrativistas do Acre, que tratasse da sua própria realidade, como forma de levantar debates sobre os temas socioambientais que giram em torno das comunidades, como o êxodo rural e o desmatamento. 

Quais os desafios e cuidados com o projeto editorial da obra? 

Depois de todo o processo de negociação e contrato, o primeiro desafio foi montar um time de trabalho. Como editor da obra, eu estava plenamente ciente que um projeto dessa envergadura exigia um roteirista e um cartunista profissionais. Não dava pra executar com amadores. A partir daí, já com o time montado, muitos desafios surgiram, como o fato de o cartunista e o roteirista não conhecerem a realidade das comunidades que estavam retratando. Eles nunca foram ao Acre. Nesse quesito, minha participação e a do Flávio foram fundamentais. Eu vivi por 10 anos no Acre e tinha uma grande bagagem de conhecimentos e referências para contribuir para a história. Desde referências de imagens de arquivo pessoal até detalhes como a maneira de falar dos personagens. Tudo isso foi incorporado cuidadosamente no Mapinguari. 

Também tivemos muitos cuidados com a ambientação da história, tanto nas referências de locais e pessoas, quanto na linguagem. O Mapinguari, retrata muito bem a realidade daquelas pessoas e daquela região e, também, consegue alcançar identificação com várias outras comunidades espalhadas pela Amazônia. 

Em sua primeira edição, pelo WWF-Brasil, Mapinguari foi publicado em preto e branco. Como se estabeleceu a parceria inédita entre a entidade e a FTD Educação para o lançamento de Mapinguari colorizado? A coedição sofreu muitas alterações? 

Originalmente o projeto seria impresso colorido em sua edição de estreia pelo WWF, com até 70 páginas. Durante a execução do Mapinguari, o roteiro ganhou corpo e consistência e tornou-se inviável contar toda essa história em apenas 70 páginas. Por isso, decidimos, junto ao WWF, executar o Mapinguari, em preto e branco para poder aumentar o número de páginas previsto inicialmente. Assim, a edição de estreia acabou dobrando de tamanho e ficando com mais de 140 páginas. 

Essa decisão mostrou-se acertada, pois a história atraiu o interesse da FTD que, posteriormente, colorizou a edição original e, hoje, temos o melhor dos dois mundos: história completa com 140 páginas e edição colorida. 

A parceria surgiu a partir de uma indicação do nosso cartunista, Gabriel Góes, e demorou bastante tempo de negociações até que pudesse de fato entrar em produção. As alterações que tivemos que fazer foram mínimas e a coedição ganhou, além de páginas coloridas, um formato maior e uma ambientação ainda mais próxima do que queríamos retratar. 

Mapinguari trata de um tema ambiental importante, que é a vida dos seringueiros na Amazônia. Por que apresentar este tema em uma HQ e como o formato aproxima o assunto do público jovem? 

O extrativismo e o universo do seringueiro é algo muito presente nos estados da Amazônia, mas geralmente tratado e retratado através de um olhar de fora. O que fizemos com o Mapinguari foi trazer o olhar para dentro da floresta e contar essa história a partir da ótica do seringueiro. Isso por si já tem um componente de ineditismo: feito em quadrinhos, então, é realmente inédito. 

Mas a ideia de fazer esse projeto em formato HQ não se trata apenas de ineditismo. A ideia aqui era realmente utilizar os recursos da nona arte para conectar essa obra com as pessoas de lá. Uma boa história contada com imagens e todos os recursos dos quadrinhos era realmente o que pretendíamos. E deu certo. No caso do Mapinguari, tanto o formato quanto a história se conectam diretamente com o público jovem. José, o protagonista, é um jovem, como tantos que vivem na floresta, que querem ir para a cidade e que tem visões de como a vida na cidade poderia ser “melhor”. Muitos jovens de famílias de seringueiros vivem essa ilusão da cidade grande. 

Mais alguma curiosidade sobre o projeto gráfico de Mapinguari? 

Como designer editorial, editei e produzi dezenas de livros voltados a comunidades extrativistas e indígenas e sempre questionei que os conteúdos dessas publicações eram trazidos de fora para dentro e isso dificultava muito o processo de apropriação por parte da comunidade. Passei muitos anos tentando executar projetos que fossem abraçados pelo seu público-alvo com amor e intensidade. Para isso, fui plantando sementes nas relações profissionais que estabelecia. Algumas dessas sementes germinaram e um dos frutos que nasceu é o Mapinguari. Antes de executar esse projeto, estive pessoalmente em diversas das comunidades que serviram como inspiração para essa obra. Conversei com pessoas, retratei essas pessoas, convivi com elas. Essa experiência, somada à parceria com o Flávio Quental (idealizador por parte do WWF), foi fundamental para que o Mapinguari tivesse a consistência e profundidade que tem. 

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