Há uma expressão muito usada em países de língua inglesa para se referir ao imperativo ético de ajudar o próximo como uma lembrança de você também foi ajudado, seja por outras pessoas, instituições, profissionais mais experientes ou condições associadas ao seu nascimento, o “give back”, literalmente devolver. Assim, alguns “dão de volta” à escola em que estudaram, na forma de doações ou bolsas para alunos mais pobres, outros ajudam quem lhes deu a mão e agora se encontra em dificuldades e ainda há quem dá de volta para seres humanos em sofrimento.
Sim, trata-se de caridade, mas há uma atitude de humildade associada ao gesto que o torna mais bonito: trata-se de devolver à vida aquilo que ela nos deu. Assim, não temos o direito, neste caso, de nos vangloriar da nossa generosidade.
Lembro dessa expressão, sempre que meu pai me vem à memória. Ele era romeno e veio ao Brasil, fugindo de seu país, logo após a segunda guerra mundial. Quando éramos crianças, sempre dizia: “Não se esqueçam de que o Brasil nos recebeu de braços abertos. Precisamos ajudar o país em tudo o que nos for possível”.
Esta atitude deveria fazer parte da educação familiar e escolar de todas as crianças e jovens. Ter oportunidades interessantes – viajar, conhecer lugares bonitos, dispor de certos bens – não é feio ou algo que deveria nos envergonhar e sim algo que nos conclama à ação. Pude estudar numa boa escola, que tal oferecer bolsas de estudo para quem não pode fazê-lo? Conto com um bom plano de saúde, que tal ajudar hospitais públicos ou filantrópicos? Colegas me ajudaram, que tal mentorar profissionais em início de carreira?
Não estamos, evidentemente, falando de um fenômeno novo. Há muito tempo que escolas tentam mobilizar as famílias para apoiar ações meritórias, desde voluntariado em construção de casas para populações vulneráveis, prática frequente no Ensino Médio americano e europeu, passando por entrega de víveres para pessoas em risco nutricional ou até reforço escolar para alunos com dificuldades, dado por seus colegas.
A BNCC enfatiza a importância desses aprendizados em escolas seja associando-os a empatia, a colaboração ou a protagonismo juvenil, competências que serão úteis mais tarde para o exercício da cidadania e para o mundo do trabalho. Mas mais importante, a noção de que recebemos da vida e precisamos dar de volta nos torna definitivamente mais humanos.