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A vida de cada criança

Por Claudia Costin

Estimativa de leitura: 4min 7seg

12 de maio de 2021

Poucos dias antes de eu escrever este texto, um jovem, armado de um facão, entrou em uma creche em Santa Catarina e matou duas educadoras e três crianças, além de ferir outros adultos e bebês. Naturalmente, o episódio causou grande comoção e mobilização da cidade para tentar evitar um morticínio ainda maior e tratar dos feridos. 

Este episódio, infelizmente, não é isolado na nossa história ou sequer na de outros países. Mas a pergunta que se coloca é: “O que levaria uma pessoa a querer matar qualquer outra, ainda mais jovens alunos que teriam a vida inteira pela frente?”  Neste caso específico, aparentemente, parece tratar-se de um surto psicótico que canaliza para seres sem capacidade de reagir, as suas angústias e sofrimentos de origem irracional. 

Mas como podem ser evitados essa e outras tragédias assemelhadas? Alguns dirão: “Coloquem armas nas mãos dos professores que, numa contingência como a descrita acima, eles protegerão as crianças.” Será? Acidentes com pequenos pegando em armas esquecidas em cantos da casa são frequentes e as habilidades que gostaríamos que todos os mestres tivessem não são as de perícia em tiro.  

Assim, outros sugerirão colocar policiais em cada creche e escola, para contar com pessoal preparado para agir se necessário. Mas, infelizmente, isso não é viável e não tem funcionado nos poucos países que recorrem a essas medidas, geralmente em escolas de ensino médio em áreas violentas dos Estados Unidos.  

Neste ano de 2021, completaram-se dez anos de outra tragédia, o chamado massacre de Realengo, em que 12 adolescentes, entre 13 e 15 anos, foram mortas e mais 12 feridas, na Escola Tasso da Silveira, no Rio de Janeiro, por um ex-aluno que lá entrara para se oferecer para dar uma palestra. Wellington de Oliveira, então com 23 anos, acumulava, segundo relatos, frustrações e ressentimentos por ter sofrido bullying de seus contemporâneos naquela mesma escola e teria querido se vingar numa nova geração de alunos. 

Acompanhei de perto o triste episódio, como Secretária de Educação da cidade. Assim que recebi a notícia, corri para a escola. Parecia que não apenas a família dos que morreram, mas toda a Educação da cidade e do país estava de luto. 

Como poderia alguém entrar numa escola e assassinar crianças? As instituições de ensino deveriam ser sacrários onde alunos se sintam protegidos da violência e não mortas, foi o que não saía da minha cabeça. O contato com os professores da escola e com os familiares dos alunos reforçou esta sensação. 

Algo pôde ser feito para tentar lidar com os aspectos mais externos do sofrimento de todos, inclusive a reconstrução da escola, com participação dos próprios alunos na definição de características desejadas no ambiente, mas a sensação de perda não foi, certamente, atenuada. O núcleo de psicólogos e psicopedagogos da secretaria também foi mobilizado para dar atenção aos professores, eles mesmos emocionalmente muito machucados com tudo o que se passou. Mas nada apaga o sofrimento vivido e perda de vidas tão jovens. 

Para além do esforço para garantir maior segurança no acesso às escolas da rede e a inauguração de 12 creches, cada uma com o nome de uma das crianças que morreram, ficou uma pergunta difícil: “Como evitar que alunos afetados por bullying possam acumular feridas que se traduzam depois em desejo de vingança?”  E aqui, também, a resposta está na Educação. Afinal, as instituições de ensino não são espaços para ensinar apenas português e matemática. Elas podem e devem educar para uma convivência pacífica e respeitosa das diferenças que, infelizmente, nós adultos ainda não aprendemos a ter. 

Não ficamos sabendo as razões do ataque de fúria do jovem que esfaqueou as crianças em Santa Catarina e sua vida como aluno, e sequer se uma Educação de qualidade teria possibilitado a seus professores identificarem o que lhe perturbava, para poder encaminhá-lo ao necessário tratamento psicológico.  

Mas, com certeza, sabemos que uma Educação para valores, que ensine crianças e jovens a sentir empatia, que trabalhe com comunicação não agressiva e justiça restaurativa, que discuta com os alunos seus sonhos e projetos de vida tem mais chances de construir seres humanos integrais e, se necessário, auxiliá-los a receber, a tempo, a ajuda psicológica de que necessitam. 

Porque, sem dúvida, a vida de cada criança e sua promessa de futuro contam!  

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