Conteúdo formativo Evolution Teacher Talks Podcast Professor

Confira tudo o que rolou no último episódio da temporada!

Por FTD Educação

Estimativa de leitura: 25min 46seg

13 de julho de 2022

O pensamento colonial está tão enraizado em nossa cultura que nem percebemos como ele afeta até o ensino de Inglês na sala de aula. Já parou para pensar que muitos livros didáticos sequer trazem fotos de pessoas que estão fora do padrão eurocêntrico? E como isso pode desestimular alguém que está aprendendo? 
 

Neste sentido, o conceito de decolonialização vem para aproximar a realidade do estudante do conteúdo abordado e fazer com que os alunos se sintam verdadeiramente representados e parte do processo de ensino-aprendizagem. 

A conversa está disponível nos principais tocadores de podcasts do mercado e também por aqui com a audiodescrição completa. Vale a pena prestar muita atenção em toda a conversa, refletir e compartilhar com a escola. 
 

Que seja muito proveitoso para você! 

Transcrição Evolution Teacher Talks Episódio 8 – 3ª Temporada

GF – Gabriel Falk 
UD – Ulysses Diegues 
(intervenções simultâneas) – falas ao mesmo tempo 
[correções] – correções de conteúdo 
[inserções] – palavras ou trechos faltantes 
[Música] – pausa musical 
 
[Música] 

Gabriel Falk: Oi, ouvintes! Eu sou o Gabriel Falk, e sejam bem-vindos a mais um episódio da terceira temporada do Evolution Teacher Talks, um podcast da StandFor, o selo de língua inglesa da FTD Educação. Todo episódio, eu convido professores e profissionais do ensino e aprendizagem de idiomas, e hoje a gente vai conversar com Ulysses Diegues sobre a relação do ensino de inglês com a decolonialidade. O pensamento decolonial tem sido um tema de grande debate dentro e fora da academia, e a proposta desse episódio não é apenas explicar o conceito geral desse pensamento, mas principalmente discutir os seus impactos no processo do ensino e aprendizagem de um novo idioma. Como que fica o processo de ensino e aprendizagem na língua inglesa dentro dessa perspectiva? Como que ele pode contribuir para a formação de novos professores? Qual que é o papel da escola, do professor e até mesmo dos pais e alunos dentro dessa perspectiva? Bom, quem vai me ajudar a responder todas essas questões é o Ulysses, então vou apresentar ele para vocês, e na sequência a gente inicia a nossa conversa. Ulysses Diegues é doutorando no Programa Interdisciplinar de Pós-Graduação em Linguística Aplicada na Universidade Federal do Rio de Janeiro, UFRJ. É mestre em Linguística Aplicada e Estudos da Linguagem pela PUC São Paulo. Hoje o Ulysses atua como professor no ensino superior na Faculdade de Tecnologia de Praia Grande e na Faculdade de Tecnologia de São Vicente, é filiado ao Grupo de Pesquisa Linguagem em Atividades no Contexto Escolar (LACE), PUC São Paulo, e ao Núcleo de Estudos e Pesquisas da Escola de Vygotsky em Linguística Aplicada (Nuvyla), UFRJ/Unisinos. Oi, Ulysses, obrigado por aceitar o nosso convite, cara, está animado para esse bate-papo? 

Ulysses Diegues: Oi, Gabriel, olá, pessoal! Tô muito animado, agradeço muito o convite de vocês para participar aqui desse bate-papo nesse podcast.  

[Música] 

UD: Bem, eu sou Ulysses Diegues, sou um homem cis branco, tenho 36 anos, de ancestralidade europeia e indígena, sou careca mas tenho barba, tá? Tô vestindo uma camiseta vermelha, no meu fundo tem uma parede com três quadros, esses quadros têm uma imagem do Big Bang, o outro com a imagem da Torre Eiffel, e o outro do Empire State. Quero falar que meu primeiro contato com decolonialidade foi numa disciplina na PUC São Paulo, com a Fernanda Liberali, que esteve no episódio passado, e com certeza é aí uma inspiração para mim, para todos que estão na Academia. 

GF: Ulysses, eu também vou fazer minha autodescrição para os nossos ouvintes. Eu sou Gabriel Falk, eu tenho 26 anos, eu sou um homem cis branco de ancestralidade europeia. Eu estou utilizando uma camiseta preta que tem um símbolo azul no meio, como uma estampa, eu estou usando um [par de] óculos de armação preta grossa, e todo o meu fundo tem um armário branco e tem uma parede branca, em um dia bem claro, que é quando a gente está gravando esse episódio. Então tá pronto, vamos começar a falar sobre decolonialidade, Ulysses? 

UD: Bora lá, vamos. 

[Música] 

GF: Cara, a palavra colônia, ela tem uma certa facilidade em ser associada com conteúdo de aula de história, onde todo mundo que está ouvindo a gente teve um certo acesso, né. Onde aquela associação mais básica, que países têm uma relação de dependência, exploração, até mesmo povoamento. Você pode explicar pra gente o que é decolonialidade, o que a gente pode considerar sobre estudos decoloniais, principalmente pensando aí nesse no contexto de ensino e aprendizagem? 

UD: Claro, Gabriel. Eu acredito que antes de a gente falar de decolonialidade, a gente precisa falar de colonialidade e colonialismo, né, como você mesmo disse, em relação à palavra “colônia”. Então, o colonialismo, ele foi um período histórico derivado de uma extensão territorial marcada pelas navegações e descobertas de novos continentes quando a gente começou com os povos colonizadores, que trouxeram um modelo, né, um padrão marcado pela dominação e pela exploração de território, cultura. Foi imposto dentro de um padrão daquilo que tinha naquele momento, né. E aí, o continente europeu, ele se tornou uma referência mundial, né, de civilização, de desenvolvimento, de um sistema de poder fortalecido pela lógica capitalista, que a gente pode chamar de globalização. E aí, a globalização, ela decorreu de um projeto de modernidade, que dividiu o mundo em países centros em detrimento de países periféricos, né, e os países periféricos aí atribuídos ao terceiro mundo. O Dussel diz que essa superioridade, né, intrínseca a esse projeto de expansão cultural, territorial e moderno, foi um processo de colonização. E aí, ele acumulou em riquezas, conhecimentos e experiências da Europa, sempre ou quase sempre, em detrimento aos demais continentes, então a gente tem essa ideia de colonialismo. E aí, o que é colonialidade, né. Ballestrin diz que comunidade é o lado obscuro e necessário da modernidade; a forma dominante de controle de recursos, de trabalho, de capital, de conhecimento. Maldonado-Torres fala que a colonialidade se reproduz numa tríplice dimensão: a do poder, a do saber e a do ser. Vou falar rapidamente sobre elas: colonialidade de poder, relacionada à globalização, que tem esse poder de classificação por raça, por fenótipos, impostos aí pelo pensamento ocidental. A colonialidade de saber deriva do pensamento moderno, né, um padrão de conhecimento global, hegemônico, superior, naturalizado e expressado pela negação ou invisibilidade do conhecimento. E a colonialidade do ser está relacionada à inferioridade atribuída pelos povos subalternizados, silenciados, oprimidos, colocado às margens da sociedade, e nem sempre vistos por todos. Estão os negros, os mestiços, os LGBTQIA+. Então o Maldonado Torres diz que essa colonialidade do ser se refere à experiência vivida da colonização e o seu impacto na linguagem. Mas, agora, o que é decolonialidade, né? Então, a decolonialidade, ela surge como uma proposta para enfrentar essa coloniailidade e esse pensamento moderno. Ela começou com estudos do Grupo modernidad/colonialidad (e decolonialidade), compostos aí por estudiosos como Aníbal Quijano, Catherine Walsh, Edgardo Lander, Enrique Dussel, o Nelson Maldonado-Torres, Walter Mignolo, Boaventura de Sousa Santos, que vêm discutindo a decolonialidade como um caminho para existir e desconstruir padrões, conceitos e perspectivas sobretudo impostos aos povos subalternizados durante todos esses anos. É nada mais do que uma crítica direta à modernidade e ao capitalismo, e aí esse pensamento decolonial se coloca como alternativa para dar voz e visibilidade aos oprimidos, que por muito tempo foram silenciados. 

GF: É muito interessante tua explicação, Ulysses, porque ela expande não apenas talvez para um sentido educacional, mas é muito um sentido social. Toda a tua explicação sobre a parte do poder envolvendo a globalização, o saber olhando para o pensamento moderno, tá tendo a parte de inferioridade de povos, e eu mesmo ali na descrição me considero uma pessoa extremamente privilegiada, socialmente falando, em termos de em toda a minha vida, nos 26 anos, nunca sofri, por exemplo, um preconceito na minha vida. E aí vi muito de conversa sobre empatia e você poder ter uma visão muito racional sobre como que a sociedade foi construída, e você como profissional do meio educacional, como professor, como um doutorando que dedica muito tempo olhando para o processo de ensino e aprendizagem, qual que é a relação de todo esse processo da decolonialidade como um processo educacional? A correlação parece ser muito forte, mas eu queria entrar um pouquinho de cabeça e entender como que você enxerga essa correlação. 

UD: Primeiro eu queria dizer que a minha ideia de ensino e aprendizagem no ensino decolonial vai muito com o que o meu orientador de doutorado, o seu Doutor Adolfo Tanzi Neto diz, que é deixar o how to de lado, né. A gente como professor pensa muito nesse how to, né, fazer como alguma coisa que já está bem padronizada e colonial. Então, esse ensino decolonial, ele parte do reconhecimento dos sujeitos, né, individuais ou coletivos, e como esses saberes são produzidos a partir das suas próprias narrativas, a partir das suas próprias vivências, a partir das suas próprias culturas, levando em consideração o direito à diferença, novas oportunidades de práticas pedagógicas. E aí eu quero trazer um pouquinho que Freire diz na Pedagogia do oprimido, sobre a forma de olhar os educandos, né, ou de olhar os alunos. Então esses alunos, né, aliás, todos nós somos sujeitos socioculturais, que trazemos bagagem diferentes, trazemos vivências diferentes, como você mesmo mencionou. Você é privilegiado, mas a gente pode ter um aluno dentro de uma sala de aula que esteja junto com você, que também seja privilegiado e outro que não seja privilegiado, e aí a gente precisa entender, e aceitar, e pensar como essa bagagem é rica em conhecimento. E a escola precisa ensinar que existe, né, existe humanamente um mundo, né, e a gente precisa de alguma forma modificá-la [modificá-lo]. Eu queria dizer que a Fernanda fala que o ensino e aprendizagem, acredito que não só no ensino decolonial, mas o ensino e aprendizagem, por si só, é poder criar atitudes e possibilidades de ser, agir, sentir e viver o mundo.  

GF: Considerando todo esse amparo e o background social econômico diferente de cada aluno, eu acredito que um dos principais desafios dos profissionais, dos professores, é como criar talvez um conteúdo homogêneo, elevar uma sala de uma forma muito conjunta, considerando que você tem uma heterogeneidade de pessoas que estão participando e consumindo aquele conteúdo de uma forma diferente, tanto a maneira como o aluno tem preferência de aprender quanto tudo o que ele já sabe em termos de sociedade, economia, religião, toda aquela percepção externa aos 45 minutos dentro de uma sala de aula. E pensando no ensino da língua inglesa, qual que é o papel na tua visão da decolonialidade se a gente apontar para o ensino de um novo idioma, da língua inglesa?  

UD: Eu acho que, sem dúvida, é importante que a gente compreenda que existem outros mundos, né, e não só aquele que a gente está inserido. A Antonieta Megale diz que o professor precisa ser um consumidor de bens culturais e conhecimentos. A gente tem muito aquela relação, né, de inglês britânico, inglês americano, isso é totalmente colonizador, e a Fernanda falou um pouco sobre isso também no episódio dela, mas, assim, o inglês, ele é do mundo, né, as pessoas se comunicam com sotaques diferentes, e a gente precisa respeitar isso e decolonializar essa questão centrada de que só existe americano e britânico, e aí aplicar esses conceitos no ensino de língua inglesa é onde o professor precisa dar espaço e voz para produções de países, por exemplo, considerado periféricos, né. É sair um pouco, é o out of the box, né, sair daquela minha caixinha padrão do Listening americano do Listening britânico, enfim, do texto do New York Times, do texto da BBC. Então é entender que existe um significado amplo de estudar um idioma que a gente pode ter debates globais e com as suas realidades locais. 

GF: E eu acredito que o professor, isso eu já pegando até alguns históricos de outros episódios aqui do Evolution, muitos professores comentam que conversando com outros profissionais que têm acesso a um determinado material didático que determinada escola recomenda a utilização, e você começa a olhar aquele material didático, só tem pessoas brancas loiras de olhos azuis, onde o material do Listening é aquele CD que vem junto, e ele sempre tem uma pronúncia extremamente americanizada, ou um pouco britânica, e você precisa necessariamente reproduzir com aquele sotaque, e a gente chega num beco sem saída, que é o aluno que tem dificuldades de aprendizado, pra ter uma proximidade de uma nova língua, não se sente confortável ou não se sente incentivado a continuar a aprender aquilo, porque é algo tão diferente da realidade dele, que ele não se sente, digamos, na mesma página do que aquele livro está tentando mostrar para ele. E se a gente considerar o desafio do material didático, que não é a primeira vez que eu trago essa pergunta aqui, como que o decolonialismo está presente dentro, por exemplo, dos materiais didáticos, e se você acredita hoje como um professor que a gente está tendo avanços ou melhorias em relação à produção desses materiais, ou, com a tua visão hoje, do que você consome, do que que hoje os professores têm disponíveis para apresentar para os seus alunos? 

UD: Olha, Gabriel, eu, com a minha experiência como aluno, né, mais de 20 anos aí, duas décadas, eu vi uma grande transformação nos materiais didáticos, né. Quando eu comecei a estudar inglês, em 1998, era tudo muito mais padronizado, e como você mesmo disse, o personagem branco, personagem loiro, personagem extremamente britânico, extremamente americano. Eu tive um episódio de uma vez em aula, eu trabalho com material didático e a gente estava fazendo um levantamento prévio sobre um assunto, e um aluno falou assim “poxa, Ulysses, só tem gente branca nessa imagem?”, e aquilo me deu um boom, né, fiquei pensando “poxa, ele não é branco, né, então ele não se sentiu representado”. Enfim, quantas outras pessoas sofrem em relação a isso, dentro desse padrão que potencializa, né, o grau nessa discussão que a gente tá. Mas pra pensar nessa questão de decolonializar o material didático, é a gente primeiro desmistificar de que existe um inglês perfeito, e que este inglês perfeito é o inglês americano ou inglês britânico. Isso traz aqueles modelos, né, aqueles padrões de materiais didáticos que são produzidos nos Estados Unidos e na Inglaterra e são exportados mundo afora. É claro que a gente sabe que não existe um material didático perfeito, mas existe um material didático que atende uma parcela enorme, um material didático internacional. Agora, estes materiais didáticos, as pessoas que produzem esses materiais didáticos, elas precisam considerar essa diversidade que a gente tem. Diversidade de culturas, diversidade de povos falantes de língua, né, ao redor desse mundo. O meu foco hoje é maior no ensino de inglês para fins específicos, de inglês para negócios, e os meus alunos falam “Ulysses, a gente conversa muito com chinês, e é totalmente difícil entender o que pessoas falam”. E aí não adianta eu ficar lá na sala de aula dando Listening de American e British English, porque não vai ter nenhuma função para os meus alunos. Então a gente precisa romper as concepções equivocadas de ensino de línguas, né, a gente tem um pensamento arraigado, né, de que “ah, apenas países hegemônicos representam culturas de língua inglesa”. Não, e aquela coisa “ah, o nativo falante”, que a gente tem muito forte nos materiais, a gente tem muito aquela representação mais próxima do falante nativo. Então eu acredito que o material didático, o foco dele não deve estar apenas no ensino de inglês americano ou britânico. Ele precisa, ele deve, ele tem a obrigatoriedade de trazer para a sala de aula, para esses aprendizes, outras produções, porque é só assim que a gente vai dar espaço e voz para essas pessoas, para esses contextos, e decolonizar o ensino. 

GF: Ulysses, é interessante essa tua fala porque eu lembrei muito do episódio que a gente gravou com a Fernanda Liberali, e aqui eu incentivo todo mundo que está ouvindo a gente e não ouviu ainda o episódio com a Fernanda, por favor, vão ouvir, porque é um complemento muito legal dessa nossa conversa, e a Fernanda fala no episódio que quando você vai dar um conteúdo, e a gente falou sobre o conceito de agência, né, e quando você vai dar um conteúdo, falando do papel do professor e o papel do aluno dentro desse processo todo, é o professor ter a sensibilidade de identificar o interlocutor. Ele poder entender , o read the room, né, com quem você está conversando, e adequar o conteúdo para quem você está conversando. E queria te fazer aqui duas perguntas que é o teu contato e a tua interação, primeiro, com outros professores é: esse debate, essa conversa, existe com outros professores da Academia, e, se sim, o quão frequente você acredita que é esse debate sobre atualização de material didático, ou até mesmo a parte do decolonialismo durante o processo didático do professor? E também se o aluno tem essa visão, essa transparência, de determinado conteúdo que ele está consumindo, ou até mesmo determinado exercício que está sendo trazido dentro de sala de aula, se ele percebe que é algo que está envolvido com decolonialidade ou é algo que o professor, por exemplo, precisa rotular que é isso, ou é uma coisa que fica até um pouco no fundo da cabeça, um pouco implícito no exercício que está acontecendo? 

UD: Eu queria iniciar, quando você fala da Academia, uma frase da bell hooks. Ela diz que a Academia não é o paraíso, mas o aprendizado. É um lugar onde o paraíso pode ser criado, e a sala de aula, com todas as suas limitações, continua sendo um ambiente de possibilidades. Então eu acredito que tanto a Academia quanto a escola precisam estar juntas. E eu acredito que vem, né, isso vem junto, a gente vem, né, existem muitos professores que buscam a Academia para poder compreender teoricamente algumas questões e colocar em prática dentro da sala de aula. E eu acredito que a Academia tem um papel fundamental para produzir ciência, para desmistificar a ciência, para trazer novos saberes, de pessoas que estão pesquisando aí ao redor do mundo. Então eu acredito que nós, como pesquisadores, temos um papel muito importante pra decolonizar tudo isso que vem já enraizado dentro da nossa vivência como professor. Então, sem dúvidas, a Academia tem um papel principal, e é muito bacana você ver tanta gente de tantos grupos conversando bastante sobre decolonialidade, como eu disse no início do episódio, eu tive esse primeiro contato com uma disciplina da Fernanda, se não me falha a memória, há um ano e meio atrás, e nesse um ano e meio muita coisa vem acontecendo, muitos debates, muitos textos, muitas discussões sobre a questão de decolonialidade. Então a Academia tem sem dúvidas um papel extremamente importante dentro desse processo de ensino e aprendizagem e de desmistificar a ciência. O aluno, ele precisa ser formado, então a partir do momento que ele é formado com um pensamento decolonial onde ele precisa estar fora daquilo que está dentro do padrão dele, daquilo que está fora daquele universo dele, ele vai ter um outro conhecimento de mundo, e sem dúvidas vai poder ter outras experiências, outras vivências. Então eu acredito que o professor tem um papel extremamente importante nessa perspectiva de poder proporcionar para os alunos outros momentos, outras vivências, e ele, o aluno, também, como um ser agente, né, ser responsável ali pela sua ação dentro do seu processo de ensino e aprendizagem. 

GF: É muito uma consequência, acredito que você precisa desse ímpeto desse conhecimento do próprio professor, de quem vai ser, quem vai trazer a didática e o contato. O professor é um grande construtor de pontes desses conteúdos, de uma forma acessível para os alunos. E considerando que o professor tem o seu preparo com o material didático dentro da sua própria didática, seu preparo em aula, eu penso um pouco na instituição. Você comenta, né, não existe um inglês ideal, e infelizmente não existe acho que um mundo ideal e homogêneo onde uma instituição talvez já esteja totalmente preparada pra quem sabe suportar essa mentalidade decolonial. Então eu queria, quem sabe, Ulysses, se você comentasse um pouco com a gente acho que os dois cenários, um cenário, é claro, um tanto positivo, ou pelo menos da influência da instituição, mas talvez até para os professores que estão ouvindo a gente, que tem uma experiência de se aproximar do ensino decolonial mas quem sabe está inserido em uma instituição que ainda tem alguns passos a serem evoluídos, quais, quem sabe, podem ser os principais desafios, ou até mesmo as principais ferramentas, talvez de contorno de o professor poder estar um pouco mais alinhado, ou a instituição se tornar um pouco mais alinhada com essa visão decolonial? 

UD: Ah, eu acredito que tanto a escola quanto professores precisam primeiro deixar de pensar em currículos padronizados. Eu acredito muito no “fora do padrão”, né, até porque eu não sou padrão [risos], então eu penso muito nessa questão de que a gente precisa estar fora da caixinha, e sem dúvida quando a gente deixa de pensar em currículos padronizados, em práticas hierarquizadas, né, em autoritarismo, em autoridade, a gente consegue colocar ou recolocar um debate de humanização das práticas pedagógicas, propondo novas formas de construir uma instituição escolar como um espaço de cultura viva, onde todos os sujeitos fazem parte dela. Tem muita gente fazendo muita coisa bacana dentro das escolas, tem muito professor transformando pouco a pouco a escola, deixando de ser um espaço extremamente colonizado para uma perspectiva decolonial. Então isso me deixa bastante feliz quando eu participo de congressos, de cursos, e vejo bastante gente pensando em como mudar esse mundo de alguma forma decolonial. 

GF: Dentro do nosso grupo de ouvintes, aqui, que ouve com frequência o Evolution Teacher Talks, a gente tem de tudo, Ulysses. A gente tem tanto pessoas que querem se tornar professores quanto pessoas que simplesmente querem aprender sobre o assunto, ou professores que começaram agora, estão terminando a sua formação, sua licenciatura, quanto professores que já estão aí no mercado há bastante tempo. Considerando que você também é um eterno aluno, é um doutorando, e também tem contato com pessoas da Academia que estão fazendo um processo de mestrado ou até mesmo graduação, a formação de professores hoje, no Brasil, você acredita que já leva em consideração essa visão decolonial? É algo que já é evidenciado dentro do currículo formativo do professor brasileiro?
 
UD: Olha, na formação, na graduação, com a experiência que eu tive, mas aí eu estou falando de quase duas décadas também; não, duas décadas, que não sou tão velho assim, uma década, talvez, 15 anos que eu me formei, eu não tinha nenhuma teoria, né. A gente não falava disso há um tempo atrás. Então eu acredito hoje, com os movimentos que eu participo, enfim, com os colegas que eu ouço e vejo, gente que tem aí, dentro das instituições, na própria UFRJ, na UnB, na UFMT, na UFTM, enfim, em várias universidades a gente vê bastante gente, bastante disciplina falando sobre decolonialidade. Então eu acredito que hoje este assunto na graduação tá bem forte, e isso é muito importante para a gente formar um licenciado com essa perspectiva, com essa ideia de decolonialidade, e deixar de lado aquilo que estava padronizado. Na escola como um espaço de formação, e eu acredito que a formação de professores é extremamente necessária, né, ela se faz importante. Não dá pra gente querer uma escola sem formação de professores, que não valorize esse espaço. Então, Perrenoud, ele fala justamente sobre isso, que a formação de professores convém com uma prática reflexiva, para a inovação e cooperação. Então se a gente não abre esse espaço dentro da escola para formar professores e ouvi-los, e discutir, e pensar, e compartilhar, trocar experiências de acertos e erros, aí a escola não tem muito espaço pro diálogo e não tem boas opções de escolhas pra práticas dentro da sala de aula. Então é pensar um pouco que esse espaço de formação é necessário, não existe um conhecimento absoluto sobre alguma coisa, e a gente precisa estar trocando o tempo inteiro. A escola é o é o chão da escola, o chão da escola se faz no dia a dia, ali, no que a gente vê o tempo inteiro e vive o tempo inteiro, discutindo em colaboração crítica com todo mundo. 

GF: Principalmente por não ser um ambiente estático. A gente, né, vê tanto, a escola é um ambiente tão mutável e sensível a novos conteúdos e a tudo o que se vem trazendo de novidade. Essa abertura se torna necessária, pra que a própria escola se mantenha um ambiente aberto, claro, há sempre o novo discurso, mas principalmente é, acho que antenada, e o mais atualizado possível para esses assuntos, que aí você mesmo fala que dentro da Academia vêm sendo pesquisados com muita frequência. Até dentro do Evolution a gente tem aqui algumas responsabilidades, que é dar um, quem sabe, uma introdução ao conteúdo, e debater e trazer um pouco de conhecimento para o pessoal. E eu acredito que a gente tem uma outra responsabilidade, que é incentivar o consumo de conteúdos adicionais. É como se a gente desse a primeira levantada de mão, a gente abraçasse os nossos ouvintes e mostrasse o quão interessante é esse assunto, pra que eles também possam gerar esse interesse próprio e aprender um pouco mais. Então você que já tem uma aproximação muito grande ao tema da decolonialidade, Ulysses, pro nosso ouvinte, pra gente fechar esse episódio, o que você recomendaria de novos conteúdos, quem sabe de livros, que o pessoal poderia ter um acesso, uma proximidade, pra aprender um pouco mais sobre esse processo de decolonialidade dentro do ensino e aprendizagem do idioma de inglês? 

UD: Ah, sem dúvida é ler os autores de modernidad/colonialidad (e decolonialidade), que é o Aníbal Quijano, a Catherine Walsh, o Walter Mignolo. O Mignolo tem uma palestra bastante interessante no YouTube contando um pouco sobre decolonialidade. O Boaventura Sousa Santos, que vai falar sobre as epistemologias do sul. Maldonado-Torres. Tem gente bem bacana. 

GF: E o pessoal, pra não ficar correndo no Google tentando ouvir o episódio, o link que o Ulysses comentou vai estar na descrição deste episódio, então independente da plataforma de streaming que você tiver utilizando pra ouvir esse episódio, esse link vai estar disponível lá. Ulysses, obrigado pela tua participação, foi uma grande aula e eu espero que a gente tenha incentivado ao pessoal que ouviu esse nosso bate-papo não só a ouvir, reouvir e compartilhar esse episódio, mas também ele pegar todas as recomendações de autores que você mesmo mencionou, pra que possa se aproximar um pouquinho mais sobre os estudos aí do ensino decolonial. Obrigado pela participação, Ulysses! 
GF: Perfeito. Obrigado, Gabriel, obrigado, Nath, obrigado a FTD, obrigado a todos por ouvir. E sem dúvida muito contente de poder compartilhar aqui e dar um start. Queria só finalizar essa minha participação parafraseando o Paulo Gustavo ao dizer que a educação é um ato de resistência. Obrigado! 

[Música] 

Pessoal, esse é o último episódio da terceira temporada do Evolution Teacher Talks, e eu espero que vocês tenham gostado dos conteúdos que a gente compartilhou com vocês ao longo das seis semanas. Se você gostou desse episódio, segue a gente no Spotify, Apple Podcasts ou na sua plataforma de streaming preferida. Afinal de contas, o Evolution Teacher Talks está disponível em todas elas, e já estamos nos preparando para a quarta temporada do podcast. Quero te convidar também para seguir a gente lá no Instagram através do @FTDeducacao, e conhecer os conteúdos extras no site portalconteudoaberto.com.br. Ah, e não esquece de compartilhar com seus colegas de trabalho, família e amigos para conhecerem esse projeto incrível da FTD Educação. Eu te encontro na próxima temporada, e até a próxima, pessoal! 

[Música] 

Ficha técnica   


Apresentação: Gabriel Falk  
Produção: Nathália Xavier Thomaz  
Roteiro: Gabriel Falk  
Pauta: Nathalia Xavier Thomaz, Isabel Lacombe  
Convidada: Fernanda Liberali
Realização: FTD Educação  
Edição: Maremoto 

Você também pode acompanhar pelas plataformas Deezer, Apple Podcast e Google Podcasts.

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