Conteúdo formativo Professor

Covid-19 e a volta às aulas

Por FTD Educação

Estimativa de leitura: 13min 43seg

26 de agosto de 2020

Por Cristiana Meirelles

Covid-19 é a doença causada pelo novo Coronavírus SARS-CoV2, com os primeiros casos identificados em dezembro de 2019, na província de Wuhan, na China.

A transmissão do SARS-CoV2 se faz principalmente de pessoa a pessoa, especialmente por gotículas respiratórias produzidas quando uma pessoa infectada tosse, espirra ou fala. Além disso, é possível a transmissão através das mãos contaminadas por vírus presentes em superfícies ou objetos ao tocar boca, nariz e olhos. Indivíduos infectados assintomáticos também podem ser transmissores.

Geralmente, a transmissão começa a partir do 2º dia antes do início dos sinais e sintomas e termina em pelo menos 10 dias após o início da doença, desde que sejam observadas melhora dos sintomas e resolução da febre sem uso de antitérmico há pelo menos 24 horas. Nos casos mais graves, o período de transmissão é maior.

Os sinais e sintomas da doença surgem em média 4 a 5 dias após a exposição ao vírus, podendo ocorrer de 2 a 14 dias. Os principais são: febre, calafrios, tosse, dispneia (falta de ar), mialgia (dor muscular), fadiga, cefaleia (dor de cabeça), anosmia (perda de olfato), disgeusia (alteração do paladar), odinofagia (dor de garganta), congestão nasal, coriza, náusea, vômito, diarreia.

COVID-19 NA CRIANÇA

Na faixa etária pediátrica, os estudos até o momento demonstram menor susceptibilidade à Covid-19. Crianças representam 24% da população mundial, mas apenas 2% dos casos, apesar da menor adesão a medidas de proteção. A taxa de ataque da Covid-19 nas crianças é até 5,5 vezes menor do que nos adultos. Uma das prováveis explicações para isso é a menor expressão da ECA2 em crianças, enzima que facilita a infecção pelo vírus.

Além disso, a doença é menos agressiva do que a gripe (Influenza) em crianças. Até 08/08/2020, os EUA apresentavam 2,2 vezes menos óbitos por Covid-19 comparado à Influenza: 49 vs. 107 óbitos por Influenza em crianças até 14 anos. Entre 90% e 99% das crianças infectadas são assintomáticas ou oligossintomáticas. A mortalidade é, pelo menos, 37,5 vezes menor em crianças do que em adultos.

A evidência nos locais onde houve reabertura das escolas mostra que crianças contribuem pouco para a cadeia de transmissão, mesmo quando frequentam a escola. Dados preliminares indicam que as crianças atuam como caso índice 5,5 vezes mais frequentemente na Influenza do que na Covid-19, demonstrando seu provável papel limitado na cadeia de transmissão.

FECHAMENTO DAS ESCOLAS

Devido à pandemia de Covid-19, as escolas foram fechadas em mais de 190 países, deixando 1,57 bilhão de crianças e jovens, mais de 90% da população estudantil de todo o mundo, sem aulas presenciais.

Crianças mais vulneráveis, como as mais novas e pertencentes a famílias de baixa renda, têm menos acesso à educação a distância de qualidade e sofrem mais com o fechamento de escolas. Mulheres têm um comprometimento significativamente maior de sua atividade profissional, acentuando as já enormes desigualdades sociais e de gênero no Brasil.

Além disso, a manutenção do fechamento das escolas pode agravar a recessão econômica, com prejuízos correspondentes a até 1% do PIB. Muitos pais, ainda que mantenham seus trabalhos em esquema de home office, não conseguem alcançar a mesma produtividade. Os impactos para as crianças são potencialmente irreversíveis. Observam-se desde prejuízo do aprendizado até riscos à saúde. Muitas crianças afastadas das escolas apresentam alterações comportamentais, de padrão de sono e alimentação, nutrição inadequada, atividade física reduzida e falta de interação social. Há um risco aumentado à segurança destes jovens com aumento das taxas de violência doméstica, uso de drogas e gravidez na adolescência. A possibilidade de evasão escolar se eleva conforme o tempo de afastamento das escolas aumenta. Estudantes com necessidades especiais e deficiências físicas e intelectuais perdem o suporte valioso que dispõem nas salas de aula. E a dificuldade de acesso aos dispositivos eletrônicos e Internet nos locais menos favorecidos acentua todos esses problemas.

REABERTURA DAS ESCOLAS

A decisão sobre o momento do retorno às atividades escolares é de responsabilidade dos governos federal, estadual e municipal e deve ser tomada com base na análise dos dados epidemiológicos (redução sustentada do número de casos novos de Covid-19, redução da transmissão comunitária e recursos de saúde suficientes).

O fortalecimento desse monitoramento será fundamental, sobretudo, para antecipar possíveis surtos da doença. Todo esse cenário nos leva a considerar que é possível que tenhamos que conciliar o retorno das atividades com novas suspensões, que serão indicadas pelas autoridades educacionais, sanitárias e governamentais.

No entanto, a decisão final sobre o momento do retorno às aulas presenciais deve ser, em última instância, dos pais do estudante, visto que cada família tem suas peculiaridades, receios e estrutura de cuidados da criança. A família deve avaliar riscos e benefícios do retorno às aulas presenciais, em parceria com a escola.

Deve ser dada especial atenção aos grupos de risco tanto entre docentes e funcionários da escola como entre as crianças e adolescentes. As pessoas mais vulneráveis às complicações da Covid-19 devem ser mantidas em esquema de home office e ensino virtual (transmissão simultânea das atividades, aulas pela Internet, televisão e rádio).

Sabendo-se que a faixa etária pediátrica é menos acometida pela doença gravemente, o enfoque na prevenção da doença deve ser ainda maior entre professores e funcionários dentro da instituição e durante seu trajeto de casa para o trabalho.

É fundamental que haja um planejamento com ênfase em biossegurança e vigilância em saúde e que essa volta às aulas presenciais seja gradual e parcial, com medidas viáveis, práticas, aceitáveis e adaptadas às necessidades de cada escola e de cada comunidade.

PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS

Existem alguns princípios fundamentais a serem considerados nesse processo:

  • Pais e professores devem procurar manter-se informados sobre a COVID-19 (modo de transmissão, sintomas da doença, medidas de prevenção) por meio de fontes confiáveis, evitando as fake News.
  • Crianças e profissionais da Educação, se doentes, não devem frequentar a escola.
  • A escola deve oferecer diversos locais para lavagem de mãos, água e sabão, álcool em gel e higienizar frequentemente os recintos e superfícies.
  • A escola deve propiciar ambientes arejados, com aberturas de janelas. Atividades ao ar livre devem ser estimuladas.
  • Cabe à escola evitar aglomerações, na entrada, saída de alunos ou intervalos, criando horários alternativos para as turmas.
  • Jogos, competições, festas, reuniões, comemorações e atividades que envolvam coletividade devem ser temporariamente suspensos.
  • O ensino a distância, sempre que possível, deve ser estimulado.

MEDIDAS DE PREVENÇÃO

As medidas de prevenção podem ser divididas em:

1. Controle de casos

  • Autoaplicação de questionários (triagem de sintomas).
  • Aferição de temperatura à chegada.
  • Recreio e demais atividades em grupos fixos (“bolhas”).
  • Limitar entrada de pais e outros acompanhantes.
  • Identificar casos suspeitos, isolar e rastrear contactantes (testar).

O tempo do isolamento do doente vai depender da extensão do período infeccioso da doença, durando ao menos 10 dias desde o início dos sinais e sintomas. O tempo de quarentena do contactante (indivíduo exposto) é calculado somando-se 14 dias desde o último momento de contato com o caso.

A confirmação laboratorial da Covid-19 é realizada utilizando-se o teste de biologia molecular PCR-RT ou de detecção do antígeno do SARS-CoV2 entre o 3º e o 7º dias do início dos sintomas ou da exposição ao vírus.

Em um estabelecimento escolar, o processo de rastreamento deve ser realizado em parceria com a vigilância epidemiológica ou vigilância em saúde do município, e com a equipe de saúde da atenção primária responsável pelo território em que a escola está inserida.

2. Distanciamento social

  • Distância de 1 a 2 metros entre as pessoas.
  • Professores e funcionários da escola: reuniões remotas, diminuir contatos sociais.
  • Redução do número de alunos por turma.
  • Ventilação das salas / Preferência aos espaços abertos.
  • Escalonamento de horários dos intervalos, entrada e saída.
  • Jornadas de horários mais curtas.

3. Higiene

  • Lavagem das mãos com água e sabão.
  • Uso do álcool em gel nas salas de aula, corredores, entrada e saída da escola.
  • Etiqueta respiratória.
  • Uso de máscaras.
  • Evitar tocar olhos, nariz e boca.
  • Limpeza dos espaços das escolas, no mínimo 2 vezes ao dia, e das superfícies.

É obrigatório o uso de máscaras individuais por todos acima de 2 anos, com recomendação de troca a cada 3 horas (máscaras não cirúrgicas ou ‘de tecido’) ou a cada 4 horas (máscaras cirúrgicas) coincidindo, preferencialmente, com os intervalos das refeições (momento em que já se retira a máscara). Adicionalmente, recomenda-se a troca das máscaras sempre que estiverem sujas ou molhadas.

Crianças menores de 2 anos e aquelas que tenham alguma condição clínica ou alteração comportamental que comprometa o uso da forma apropriada e/ou a retirada da máscara em caso de sufocação não devem utilizá-la.

4. Medidas educativas

  • Linguagem e comunicação adaptadas para as faixas etárias.
  • Estendidas ao ambiente doméstico.
  • Atividades com material ilustrativo .

ORGANIZAÇÃO ESCOLAR

  • Mapa de riscos biológicos.
  • Guias físicos, tais como marcação de fitas adesivas no piso.
  • Espaços mais amplos e arejados, como salas de aula.
  • Marcação de mão única em corredores.
  • Dispensadores com álcool em gel 70%.
  • Restrição da entrada de visitantes e entregadores.
  • Elevador somente quando estritamente necessário.
  • Uso de equipamentos compartilhados, tais como impressoras, de forma coordenada.
  • Limpeza de eletrônicos e telas com panos de microfibra e álcool isopropílico a 70%.
  • Cada sala de aula ocupada pelo mesmo grupo de estudantes.
  • Limpeza e desinfecção das salas de aulas nos intervalos.
  • Limpeza das áreas de maior circulação de pessoas e objetos mais tocados.
  • Uso de solução de hipoclorito de sódio a 0,5% para limpar superfícies e de álcool a 70% para pequenos objetos.
  • Recolher o lixo com frequência.
  • Aproveitar as áreas ao ar livre para a realização de atividades.
  • Regulamentar o uso de laboratórios, salas de apoio e bibliotecas: lotação máxima reduzida, agendamento prévio etc.
  • Suspender a cessão de salas (espaços fechados) para atividades com público externo.
  • Suspender a realização de eventos internos que caracterizem aglomeração de pessoas.

Secretaria escolar:

  • Atendimento ao público por canais remotos.
  • Barreiras físicas (acrílico ou acetato) sobre balcões ou uso de face shield (protetor facial).

Organização para entrada:

  • Dupla entrada e saída no prédio escolar.
  • Escalonamento de horários.
  • Recipientes com álcool em gel 70% .
  • Aferição da temperatura corporal por meio de um termômetro digital infravermelho.
  • Aplicação de questionário sobre sinais e sintomas.
  • Tapetes sanitizantes.

Organização das salas de aula:

  • Distanciamento físico de 1,5 a 2 metros entre estudantes e docentes.
  • Marcação com fitas adesivas no piso, indicando posicionamento de mesas e cadeiras.
  • Mesas e carteiras com a mesma orientação.
  • Infraestrutura audiovisual, como microfone portátil para os professores.

Outros:

  • Sem bebedouros com acionamento manual.
  • Pias e lavabos em espaços abertos.
  • Latas de lixo sem toque, com acionamento por pedal.

Alimentação escolar:

  • Distanciamento entre os trabalhadores de produção/processamento de, pelo menos, 1 metro.
  • Distanciamento entre mesas e cadeiras.
  • Barreiras físicas sobre as mesas.
  • Divisão dos refeitórios em áreas.
  • Escalonamento de horários para as refeições.
  • Guias físicos, como fitas adesivas no piso, para a fila de entrada.
  • Sem modalidade de autosserviço.
  • Barreira física entre a área de distribuição e os alunos.
  • Ampliação dos pontos de devolução das bandejas e pratos.
  • Proibido o compartilhamento de copos, talheres e demais utensílios de uso pessoal.

Ventilação:

  • Renovação frequente do ar, mantendo janelas e portas abertas.
  • Sem ar condicionado.
  • Exaustores para possibilitar o fluxo permanente de ar.

Banheiros:

  • Abastecidos com água, sabão e papel toalha.
  • Guias físicos, como fitas adesivas no piso, para a orientação do distanciamento físico nos halls de entrada.
  • Barreiras físicas de acrílico entre as pias do banheiro.
  • Dispensadores com álcool 70% para higienização de assentos sanitários.
  • Acionamento da descarga com a tampa do vaso sanitário fechada.

Limpeza várias vezes ao dia, no menor intervalo de tempo possível.

DESLOCAMENTO

Ao sair de casa:

  • Evitar levar itens desnecessários.
  • Levar máscaras extras para as eventuais trocas.
  • Levar embalagens, tais como sacos plásticos com fechamento hermético, para acondicionar as máscaras não cirúrgicas usadas.
  • Não emprestar ou usar máscaras de outras pessoas.
  • Ter sempre um recipiente com álcool em gel 70%.
  • Ao chegar à sua estação de trabalho ou estudos, higienizar as mãos.

No deslocamento para a escola:

  • Transporte coletivo: horários de menor circulação de pessoas; veículo com menos passageiros.
  • Priorizar cartão ou bilhetagem eletrônica.
  • Ônibus escolares: 1 aluno por fileira.
  • Táxi ou aplicativo: evitar tocar nas superfícies.
  • Veículo próprio: limpeza da maçaneta, volante, câmbio e cinto de segurança.
  • Higiene das mãos.
  • Janelas abertas.
  • Uso de máscara.

SAÚDE DO TRABALHADOR

  • Proteção aos grupos de risco (novas rotinas).
  • Afastamento de trabalhadores doentes ou contactantes diretos de pessoa com Covid-19.
  • Cuidado extremo no uso de álcool em gel ou álcool líquido para evitar incêndios.
  • Debates sobre os riscos de contaminação no trabalho e as orientações de biossegurança.
  • Proibição de formação de rodas de conversas presenciais.
  • Orientação para solicitação de ajuda em caso de febre, tosse, falta de ar etc.
  • Incentivo à vacinação contra a gripe e outras doenças infectocontagiosas.

COVID-19 NO MUNDO

Lições aprendidas:

Há países em todos os continentes que apresentaram bons resultados após reabertura das escolas, como Alemanha, Bélgica, Dinamarca, Finlândia, França, Holanda, Noruega, Nova Zelândia, Portugal, Reino Unido e Vietnã.

A maioria deles deu prioridade para as crianças mais novas na fase inicial de reabertura devido ao menor risco (menor gravidade e infectividade da doença) e maior benefício (menos recursos para EAD e maior demanda de cuidados pelos pais).

A retomada das aulas presenciais foi feita através da adoção de medidas de controle não farmacológicas e da avaliação de risco diário para intervenção oportuna.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A escola é um espaço de inclusão, formação e de exercício de cidadania, e neste momento, deve buscar cumprir seu papel, inclusive de promotora da saúde, com segurança e responsabilidade.

É importante que haja espaço na escola para acolhimento de professores, funcionários e pais que, certamente, podem estar vivenciando momentos de estresse e ansiedade, e estudantes, com todos os seus possíveis medos e dúvidas. Na identificação de quadros mais exacerbados (TEPT, TOC, TDAH…), deve ser feito o encaminhamento a um atendimento especializado.

“Mesmo com a adoção de medidas de mitigação durante o retorno às aulas, impactos emocionais, físicos e cognitivos são esperados no curto e médio prazo, e ações devem ser adotadas numa necessária parceria entre saúde e educação. A escola é um espaço de inclusão, formação e de exercício de cidadania, e neste momento, deve buscar cumprir seu papel, inclusive de promotora da saúde, com segurança e responsabilidade.”

REFERÊNCIAS

  • MANUAL SOBRE BIOSSEGURANÇA PARA REABERTURA DE ESCOLAS NO CONTEXTO DA COVID-19. Rio de Janeiro, versão 1.0, 13 de julho de 2020. Autores: Ingrid D’avilla Freire Pereira, Anamaria D’Andrea Corbo, Tainah Silva Galdino de Paula, Flávia Coelho Ribeiro Mendonça e Silvio Valle  
  • COVID-19 E A VOLTA ÀS AULAS DEPARTAMENTOS CIENTÍFICOS DE IMUNIZAÇÕES (2019- 2021) E DE INFECTOLOGIA (2019-2021) • Sociedade Brasileira de Pediatria – 13 de maio de 2020
  • Site da Academia Americana de Pediatria: www.aap.org
  • Site do CDC: www.cdc.gov

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