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Os desafios da formação técnica e profissional do Novo Ensino Médio

Por FTD Educação

Estimativa de leitura: 6min 21seg

9 de abril de 2021

As definições, etapas e os obstáculos a serem superados para a implementação desse Itinerário Formativo que é um dos pilares da reformulação proposta pelo MEC

Dentre as mudanças previstas pelo Novo Ensino Médio, a que recebe considerável destaque é a capacidade de oferecer ao estudante os itinerários formativos, possibilitando uma educação mais conectada com sua realidade e seu futuro.

Pela concepção da reformulação, podemos resumir o papel desses itinerários como sendo uma etapa do currículo que possui certa flexibilidade, com o objetivo de trazer mais profundidade a determinados temas ou áreas, que poderão ser utilizadas em sua carreira, na vida etc.

Na prática, com a homologação das Diretrizes Curriculares Nacionais e da Base Nacional Comum Curricular (BNCC) para o Ensino Médio, assim que as mudanças estiverem devidamente implementadas, os itinerários formativos devem substituir o formato atual, ou seja, as 13 disciplinas tradicionais, que são ministradas no decorrer dos três anos.

A nova proposta prevê três mil horas, ou seja, mil anuais, sendo que, desse total, 1,8 mil horas serão relacionadas aos conteúdos da BNCC e, o restante, 1,2 mil horas serão dedicadas aos itinerários formativos.

A formação técnica e profissional corresponde a um desses itinerários; os demais estão relacionados ao aprofundamento nos conhecimentos de uma área do conhecimento: linguagens e suas tecnologias; matemática e suas tecnologias; ciências da natureza e suas tecnologias; ciências humanas e sociais aplicadas.

Existe, ainda, a possibilidade da oferta e escolha de um itinerário formativo integrado, que combina mais de uma área – inclusive, a técnica e
profissional.

ADAPTAÇÃO

Para o membro do Conselho Estadual de Educação de Santa Catarina e ex-presidente do Conselho Nacional de Educação, do MEC, Eduardo Deschamps, além do desafio curricular, que tem pontos específicos como a interdisciplinaridade na formação geral básica, há a questão dos itinerários.
“É dar sequência na definição das ofertas dos itinerários formativos, para que os estudantes possam ter relação com as carreiras que querem seguir”, observa.

Esse ponto será decisivo também, quando esse aluno optar tanto pelo ensino superior quanto pelas carreiras técnicas, com a qualificação profissional, já ao final do próprio Ensino Médio, “os deixando habilitados para o acesso ao mundo do trabalho”, diz.

O JOVEM E O TRABALHO

Na visão do professor da pós-graduação da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo (FESPSP), Gabriel Medina, a questão do mundo do trabalho é um tema que, contemplado ou não pelo currículo, faz parte da vida desse adolescente.

“Uma parcela dos jovens brasileiros, desde os 14 anos de idade, já tem uma pressão pelo trabalho”, ressalta, complementando com um índice que mostra uma camada significativa: 25% dos jovens do Ensino Médio no Brasil já conciliam trabalho e estudo. Atualmente, pela Constituição, os
adolescentes podem trabalhar a partir dos 16 anos e, na condição de aprendiz, a partir dos 14 anos.

Pela BNCC e o Novo Ensino Médio, a formação técnica profissional deve considerar, assim como os demais itinerários formativos, o protagonismo estudantil, as habilidades socioemocionais e o projeto de vida, que vai trabalhar autoconhecimento, cidadania e o mundo do trabalho.

O fato de, até então, o currículo do Ensino Médio não contemplar essa questão é um erro, na visão de Medina, que é psicólogo de formação. “Nem todos vão fazer uma universidade ou, então, uma formação tecnológica após o Ensino Médio e, por isso, a opção de o Ensino Técnico ser um itinerário que possa ser combinado às 1,8 mil horas do currículo, é uma posição que vai completar esse jovem que inicia a vida no mundo do trabalho ainda nesse período”, afirma.

AS UNIDADES E A EDUCAÇÃO PROFISSIONAL

“Nós vemos alguns casos de pais e escolas, dos mais diferentes níveis sociais, que não acreditam no ensino profissional para a formação dos seus filhos”, comenta a pedagoga do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará (IFCE ), Miriam Brasil, que integra a comissão escolar para a implementação do Novo Ensino Médio na rede pública e privada local.

E essa falta de opção, observa, tem feito com que muitos alunos de diversos perfis de unidades escolares fiquem sem um caminho para seguir. Nesse cenário, o desenvolvimento dos itinerários formativos, com formação técnica profissional, pode impactar esse público.

“É mais um caminho para esses jovens irem às escolas, principalmente, de uma forma que integrem a função propedêutica com a educação profissional”, observa, citando o modelo do Instituto Federal.

Em linhas gerais, os especialistas ouvidos pela reportagem, quando o tema é a implementação da educação profissional do Novo Ensino Médio, concordam em um ponto: ao menos nos momentos iniciais, essas novas práticas serão executadas por unidades que já estejam estruturadas.

É o caso daquelas que fazem parte do Sistema S – Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai); Serviço Social do Comércio (Sesc); Serviço Social da Indústria (Sesi); e Serviço Nacional de Aprendizagem do Comércio (Senac); os Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia; e estruturas de educação profissional já existentes em cada Estado.

As demais escolas regulares, espalhadas ao redor do Brasil, deverão passar por transformações mais profundas, em gestão, docentes e instalações, para que possam atender a esse ponto específico da reformulação.

OS REFLEXOS NA REALIDADE

Além de trazer mais uma opção para esse público, ainda no Ensino Médio, para que não tenha apenas a questão do vestibular e da universidade como único foco possível, em larga escala, os itinerários formativos de formação técnica e profissional podem trazer resultados no contexto social.

Esse jovem, relata Medina, vai poder fazer escolhas – e, nessa estrutura, será estimulado a elas. “E dentro de seu protagonismo, vai poder trabalhar
essa dimensão de uma forma a olhar mais criticamente a essa realidade, para não ser um indivíduo que vai ser explorado pelo mundo do trabalho que está aí”, conta.

Nesse âmbito, o professor da FESPSP comenta que “a preparação do jovem para o mundo do trabalho, com o desenvolvimento do senso crítico, com a capacidade de pensar sobre suas escolhas, contribui para não se transformar em mais uma vítima do subemprego e da precarização, reproduzindo o ciclo de pobreza”.

Por fim, traz um ponto que considera importante para o momento que atravessamos que é o futuro do trabalho em si. “Esse novo cenário profissional não demanda de mais um operador que tenha, apenas, uma especialidade – mas sim de um indivíduo que saiba resolver um problema complexo, que consiga trabalhar em equipe, por exemplo”, cita.

O contexto difere do perfil da formação profissional dos anos 1970, exemplifica, quando o sistema era preparado para formar um caldeireiro, torneiro mecânico etc., em um modelo que operou também nas décadas de 1980 e 1990.

“Muitas das profissões de hoje não vão existir dentro de 20 anos e cabe a esse futuro trabalhador, ter uma formação que não seja restrita a uma só área, mas capaz de visualizar, de forma mais ampla essa realidade, para que ele possa se transformar no processo”, conclui.

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