Infelizmente, algumas escolas retardam o ensino de produção textual, já que redação é cobrada apenas no Enem ou em vestibulares. Outras ainda acham que aprender a escrever é intuitivo e basta ler para escrever.
A escrita, na verdade, requer um trabalho progressivo, de acordo com Natalie Wexler e Judith Hochman em “The Writing Revolution”, com direção e intencionalidade pedagógica, que inicie com frases que vão se tornando mais complexas, formando parágrafos e por fim textos completos, criados a partir de conteúdos aprendidos na escola, imaginados ou vivenciados pelos alunos.
Esse processo deve começar já na pré-escola, com o professor anotando frases verbalizadas pelos alunos, numa construção coletiva, introduzindo-os ao mesmo tempo a um vocabulário mais diversificado. Esse rico aprendizado deve continuar ao longo de toda a Educação Básica e ser utilizado também como um meio de reflexão sobre o que se está aprendendo. Se quisermos ter uma escola que, de fato, ensine a pensar e não apenas a deglutir conhecimentos ou decorar a visão de mundo do professor, é fundamental que se reserve tempo para a elaboração de textos a partir do que foi lido ou explanado em classe.
Algumas escolas tentam suprir essa necessidade com os chamados “fichamentos de leitura”, mas isso apenas favorece a memorização e não a incorporação do conhecimento a partir da conexão do que foi lido com outros saberes já adquiridos, com o repertório cultural do aluno.
E o trabalho pedagógico, para ser efetivo, não se encerra com a escrita do texto e a atribuição de uma nota. Envolve idas e voltas entre mestre e aluno, para refinamento da composição resultante. Afinal, aprender a pensar e colocar reflexões no papel não é algo trivial. Tampouco o é a profissão de professor, daí a importância de valorizarmos o seu fazer, que é bastante complexo e demandante.
Mas há outro elemento importante no processo de aprendizagem da escrita: a ideia de que o aluno pode ter um conjunto de trabalhos de sua autoria. A alegria de produzir uma leitura documentada da realidade, que possa ser comunicada a outros, ajuda a desenvolver autonomia, persistência e protagonismo, algumas das chamadas competências para o século 21. Não por acaso, estão entre as habilidades destacadas na Base Nacional Comum Curricular.