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Leitura e repertório cultural – por Claudia Costin

Por Claudia Costin

Estimativa de leitura: 2min 18seg

26 de novembro de 2020

Os países com bons sistemas educacionais têm incluído em seus currículos o desenvolvimento de habilidades, em vez de uma lista de tópicos a serem ensinados. Com isso, garante-se maior flexibilidade no trabalho do professor e uma visão mais contemporânea no processo de ensino-aprendizagem.

Isso faz muito sentido, mas traz também um risco: alunos que vêm de famílias em situação de vulnerabilidade costumam ter um repertório cultural mais restrito às experiências de vida que tiveram, o que torna desafiadora a tarefa de ler e entender textos mais complexos. Se traduzirmos a competência de ler e interpretar apenas como um conjunto de técnicas, corremos o risco de diagnosticar equivocadamente o problema de aprendizagem do aluno como uma falha na habilidade leitora.

O linguista canadense Steven Pinker costuma dizer que, como o aprendizado inicial de leitura envolve sobretudo decodificação, ou seja, associar letras a sons, o repertório cultural da família tem impacto menor no processo de alfabetização. Quando, porém, a criança avança para as séries escolares seguintes, a leitura de textos mais avançados passa a demandar referências históricas ou científicas que a escola precisa oferecer de maneira explícita e não apenas apostando que a criança acabe aprendendo sozinha.

Por isso é tão importante que se ensinem na escola tópicos de história, ciências e geografia, associados aos textos colocados para sua leitura, mesmo nos primeiros anos do ensino fundamental. Caso contrário, estudantes vindos de meios mais vulneráveis terão poucas chances de remover os imensos obstáculos para sua evolução na aprendizagem e na prática leitora. Neste sentido, é importante não só dar textos de não ficção aos alunos, como explicar o que neles está implícito, na forma de alusões.

Em livro recentemente publicado, “The Knowledge Gap”, a historiadora da educação Natalie Wexler mostra que as desigualdades educacionais nos Estados Unidos crescem frente à inadequação do processo de ensino em alguns dos sistemas escolares do país. Sem um ensino voltado para a ampliação do repertório cultural dos alunos, uma maior proficiência em interpretação de textos não será alcançada e a desigualdade seguirá sendo uma marca da educação americana.

No Brasil, a BNCC e os currículos estaduais e municipais para o ensino fundamental já contemplaram a integração de habilidades com conhecimentos, valorizando saberes de diferentes disciplinas. Que isso se mantenha também nos de ensino médio e que, na volta às aulas, possamos começar a diminuir a nossa desigualdade educacional, tanto mitigando os danos resultantes da pandemia, como ensinando de forma mais efetiva.

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Claudia Costin
Diretora do Centro de Políticas Educacionais, da FGV, e ex-diretora de educação do Banco Mundial
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