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Contribuições da escola católica da América ao Pacto Educativo Global

Por FTD Educação

Estimativa de leitura: 11min 48seg

14 de outubro de 2020

A cultura, hoje, está atravessando problemáticas distintas, que provocam uma propalada “emergência educativa”. Com esta expressão, referimo-nos às dificuldades de estabelecer relações educativas que, para serem autênticas, têm que transmitir às novas gerações valores e princípios vitais, não só para ajudar cada pessoa a crescer e a amadurecer, também para contribuir com a construção do bem comum.

A Educação Católica, com suas numerosas instituições educativas, oferece uma contribuição relevante à Igreja no processo de renovação que nos propõe o Papa Francisco, com o objetivo de forjar nas crianças, nos jovens e na cultura os valores antropológicos e éticos necessários para edificar uma sociedade solidária e fraterna.

“A Educação Católica é um dos desafios mais importantes para a Igreja, comprometida com a nova evangelização em meio a um contexto histórico e cultural em constante transformação […]”, afirmou o Papa Francisco (2014). Mas a Educação, em si mesma, é uma realidade dinâmica, um movimento “orientado para o desenvolvimento pleno da pessoa em sua dimensão individual e social”, que requer um grande trabalho em equipe (FRANCISCO, 2020). Para abordar esse grande movimento, será necessário unir esforços; daí o chamamento do Papa para o Pacto Educativo Global, um grande movimento para recompor o que ele chama de aldeia da Educação:

O objetivo de estarmos juntos não é desenvolver programas, mas encontrar um passo comum ‘para reavivar o compromisso por e com as novas gerações, renovando a paixão por uma Educação mais aberta e inclusiva, capaz de escuta paciente, diálogo construtivo e entendimento mútuo’. O Pacto Educativo não deve ser um simples ordenamento, não deve ser um ‘recozimento’ dos positivismos que recebemos de uma Educação iluminada. Deve ser revolucionário. (Ibidem).

Nesta visão ampla da Educação, a escola católica da América está fornecendo contribuições significativas para o Pacto Educacional Global, que resumo a seguir.

Apostamos em uma Educação melhor a partir da escola católica

Para enfrentar criativamente o momento educativo atual, devemos desenvolver cada vez mais nossas capacidades, aprimorar nossas ferramentas, aprofundar nossos conhecimentos. Reconstruir nosso abatido sistema educativo, do lugar reduzido ou proeminente que tivemos que ocupar, implica capacitação, responsabilidade, profissionalismo. Nada é feito sem os recursos necessários, e não só os econômicos, também os talentos humanos. A criatividade não é coisa de medíocres, tampouco de “iluminados” ou “gênios”: embora sonhadores e profetas sejam sempre necessários, sua palavra cai no vazio sem construtores que conheçam seu ofício.

Propomos fazer da escola um lugar de acolhimento cordial a partir da escola católica

A orfandade contemporânea, em termos de descontinuidade, desenraizamento e queda das principais certezas que configuram a vida, nos desafia a fazer de nossas escolas uma “casa”, um “lar” em que mulheres e homens, meninos e meninas possam desenvolver sua capacidade de vincular suas experiências e de criar raízes em seu solo e em sua história pessoal e coletiva, de modo que encontrem as ferramentas e os recursos que lhes permitam desenvolver sua inteligência, sua vontade e todas as suas capacidades, a fim de poder alcançar a estatura humana que estão chamados a viver.

A escola pode ser um “lugar” (geográfico, em um bairro, mas também existencial, humano, interpessoal) no qual se amarrem raízes que permitam o desenvolvimento das pessoas. Pode ser abrigo e lar, terreno firme, janela e horizonte para o transcendente. Mas sabemos que a escola não são as paredes, os quadros negros e os livros de registro: são as pessoas, principalmente os professores. São os professores e educadores que terão de desenvolver sua capacidade de afeto e entrega para criar esses espaços humanos. Como desenvolver formas de contenção afetiva em tempos de desconfiança? Como recriar as relações humanas quando todos esperam do outro o pior? Precisamos, todos e cada um, encontrar os caminhos, gestos e ações que nos permitam incluir a todos e ajudar ao mais fraco, gerar um clima de serena alegria e confiança, cuidar tanto da evolução do conjunto como do detalhe de cada pessoa sob nossa responsabilidade.

Tornamos a escola um lugar de sabedoria a partir da escola católica

A escola deve ser um lugar de sabedoria, como uma espécie de laboratório existencial, ético e social, no qual crianças e jovens possam experimentar aquilo que lhes permite desenvolver-se em plenitude e construam as habilidades necessárias para levar adiante seus projetos de vida.

Estamos diante da urgência inadiável de formar para a contemplação e para a profundidade: esses dois valores são imprescindíveis para que passemos dos dados à informação e da informação ao conhecimento, quer dizer, de muito saber à sabedoria. Em poucas palavras: formar o critério, a capacidade de análise, a possibilidade de pensamento crítico, da dúvida metódica, de ingerir a informação num ritmo mais tranquilo, digeri-la na contemplação e na reflexão, e usá-la para compreender o mundo e suas relações, e poder comunicar-se com os outros com um pensamento próprio, robusto e argumentado. Educar para a paciência, educar para a reflexão mental, educar devagar, cozinhar em fogo lento; como convida a fazer Joan Domenech em Elogio de la educación lenta: “A escola da lentidão é a escola que dá importância aos aprendizados feitos em profundidade e representa um modelo oposto à escola centrada em provas e exames, e, sobretudo, rejeita aprender conhecimentos que serão logo esquecidos com a mesma facilidade com que foram aprendidos.” (DOMENECH, 2009, p. 10, tradução nossa).

Educamos para o cuidado da Casa Comum a partir da escola católica

Conhecimento não é suficiente; precisamos de consciência: uma nova mente e um novo coração. Precisamos, também, de uma nova prática: é urgente nos reinventarmos como humanos, no sentido de inaugurar uma nova forma de habitar o Planeta, em outro tipo de civilização.

A consciência da gravidade da crise cultural e ecológica precisa traduzir-se em novos hábitos. Esses novos hábitos deverão nos convidar a criar uma cidadania ecológica.

Educamos para a vida fraterna e comunitária a partir da escola católica

Muitas instituições promovem a formação de lobos mais do que de irmãos; educam para a competição e o êxito às custas dos outros, com apenas frágeis normas de “ética”, sustentadas por paupérrimos comitês que pretendem aliviar a destrutividade corrosiva de certas práticas que “necessariamente” terão que ser realizadas. Em muitas classes, premia-se o forte e rápido e deprecia-se o fraco e lento. Em muitas, estimula-se a ser o “número um” em resultados, e não em compaixão. Pois bem, nossa contribuição especificamente cristã é uma Educação que testemunha e realiza outra maneira de ser humano. Mas isso não será possível se nos limitarmos a simplesmente “suportar” as “chuvas”, “correntezas” e “ventos”, se ficarmos na mera crítica e nos deleitarmos em estar “fora” daqueles critérios que denunciamos. Outra humanidade possível exige uma ação positiva; caso contrário, sempre será “outra” meramente invocada, enquanto “esta” segue vigente e cada vez mais instalada.

Educamos a inteligência do coração a partir da escola católica

A formação na escola deve começar insistindo na formação da inteligência do coração de nossos estudantes.

Temos insistido na formação da razão com regras e conteúdos, levando nossas crianças e jovens a um enorme individualismo, convertendo-os, muitas vezes, em seres indiferentes, emocionalmente frios e isolados, apesar de toda a tecnologia. Educar a inteligência do coração é retomar, na vida cotidiana da escola, alguma experiência humana frequente, como a alegria de um reencontro, as desilusões, o medo da solidão, a compaixão pela dor alheia, a insegurança diante do futuro, a preocupação com um ente querido, etc.

Formamos para uma consciência crítica a partir da escola católica

A escola deve formar jovens livres e responsáveis, capazes de questionar, decidir, acertar ou errar e seguir em frente, e não meras réplicas de nossos próprios sucessos, ou de nossos erros. Justamente para isso, sejamos capazes de ganhar a confiança e segurança que brota da experiência da própria criatividade, da própria capacidade, da própria habilidade de realizar suas próprias orientações, até o fim e com sucesso.

Estamos atentos aos novos comportamentos de crianças e jovens a partir da escola católica

Vivemos profundas mudanças, especialmente as crianças e os jovens, que têm novas sensibilidades e estão em busca de novas experiências.

Temos urgência em valorizar as novas maneiras de pensar e sentir de nossos estudantes, para aprendermos a nos encontrar com eles; do contrário, não apenas nos verão como fracos em nossos propósitos, também nos considerarão perdidos, até desorientados.

Por isso, é necessária uma pedagogia do encontro: que nos permita deixar de sermos guarda-costas para sermos companheiros de estrada.

Dialogamos com as pedagogias contemporâneas a partir da escola católica

Esse diálogo, tão urgente quanto necessário, passa por uma posição sempre crítica que explora a potencialidade dos paradigmas com as condições reais em que as propostas são feitas. Se nosso objetivo é tornar a Educação acessível, promover os valores da solidariedade, justiça e dignidade, construir pessoas e formar cidadãos, lutar pela equidade e oportunidades para todos, então esses diálogos com as pedagogias contemporâneas são condição sine qua non para renovar nossas propostas e propor projetos contextualizados, que respondam aos desejos mais sinceros dos estudantes, crianças, jovens ou adultos – como das sociedades e grupos humanos aos quais levamos nossa proposta. A Educação Católica não apenas deve ser consistente teoricamente e coerente metodologicamente, também explícita em seus meios e em seus fins. A Educação integral que tanto proclamam nossos projetos deve ser transparente em seus objetivos; clara em suas definições, em seus fundamentos epistemológicos, em suas metodologias; coerente nas mediações pedagógicas.

Apostamos em frutos e resultados a partir da escola católica

A escola se propõe a provocar em nossas crianças e jovens uma transformação que dê frutos de liberdade, autodeterminação e criatividade; que, ao mesmo tempo, seja visualizada em resultados em termos de habilidades e conhecimentos realmente operacionais. Nosso objetivo não é formar ilhas de paz em meio a uma sociedade desintegrada, mas educar pessoas capazes de transformar essa sociedade. Então, “frutos” e “resultados”.

Construímos projetos de pastoral educativa a partir da escola católica

Toda escola católica deve promover o encontro pessoal e comunitário com o projeto de Jesus, para a construção do Reino de Deus na escola, por meio da avaliação crítica das culturas, o diálogo “fé-razão”, o impulso a uma Educação fundamentada no Evangelho e a formação de líderes comprometidos com a transformação da sociedade.

Apostamos em seres significativos a partir da escola católica

Para ser significativo, o Papa Francisco convida a escola católica a:

  • Cultivar laços pessoais e sociais, revalorizando a amizade e a solidariedade. A escola católica continua sendo o lugar onde as pessoas podem ser reconhecidas como tais, acolhidas e promovidas.
  • Ser ousada e criativa. As novas realidades exigem respostas novas. Antes, porém, requerem um espírito aberto: que realize um discernimento construtivo, que não se prenda a certezas obsoletas, que se anime a vislumbrar outras formas de expressão de valores, que não se afaste dos desafios do tempo presente.
  • À alegria, à gratificação, à festa. Está na autenticidade de nossa esperança saber descobrir, grandes ou pequenos, para reconhecer os dons de Deus, para celebrar a vida, para deixar a cadeia de dívidas e créditos, para revelar a alegria de ser semente de uma nova criação. Para fazer de nossas escolas um lugar de trabalho e estudo, sim, mas também um lugar de celebração, encontro e gratificação.
  • Por fim, o convite à adoração e à gratificação. Na correria de cada dia, é possível nos esquecermos de atender a essa sede de comunicação que está em nosso íntimo. A escola católica pode introduzir, guiar e ajudar a sustentar o encontro com o Vivente, ensinando a usufruir de sua presença, a rastrear seus caminhos, a aceitar sua ocultação.

Portanto, aproximam-se tempos de criatividade e esperança, tempos em que a força e a consistência de nossa proposta educativa devem contribuir para um novo homem e uma nova mulher, em uma nova sociedade. É hora de ser significativo, compartilhando possibilidades e oportunidades e encaminhando, na América, a realização de projetos educativos comuns que nos permitam impactar melhor nossos povos.

Bibliografia

CIEC. Cuidar la casa común. Nuestro aporte al Pacto Educativo Global. México: Editorial Santillana, 2020.

CIEC. Educar es un acto de amor. Espanha: Grupo Editorial Luis Vives, 2020.

CIEC. El proyecto educativo de Francisco. Colômbia: Editorial Santillana, 2018.

CIEC. Proyecto educativo pastoral para la Escuela Católica de América. Colômbia: Editorial Santillana, 2015.

DOMENECH, J. Elogio de la educación lenta. Espanha: Graó, 2009.

FRANCISCO, Papa. A los catequistas. ¡Salid, buscad, llamad! Espanha: Romana Editorial, 2015.

FRANCISCO, Papa. Discurso na Assembleia Plenária da Congregação para a Educação Católica. 2020. Disponível em:

<http://www.vatican.va/content/francesco/it/speeches/2020/february/documents/papa-francesco_20200220_congregaz-educaz-cattolica.html>. Acesso em: 20 fev. 2020.

FRANCISCO, Papa. Discurso na Plenária da Congregação para a Educação Católica. 13 fev. 2014. Disponível em: <http://www.vatican.va/content/francesco/es/speeches/2014/february/documents/papa-francesco_20140213_congregazione-educazione-cattolica.html>. Acesso em: 20 fev. 2020.

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