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A BNCC e o ensino de Língua Portuguesa – Parte II

Por FTD Educação

Estimativa de leitura: 5min 15seg

8 de abril de 2020

Não deixe de conferir a primeira parte do artigo A BNCC e o ensino de Língua Portuguesa.

É preciso considerar como a Base define habilidades e competências. Compreendidas como direitos e objetivos de aprendizagem, as habilidades e competências vão apontar as aprendizagens essenciais que devem ser garantidas a todos os alunos. Logo no início, são apresentadas as dez competências gerais, que devem ser desenvolvidas ao longo de toda a Educação Básica:

Em seguida, cada área e seus componentes apresentam suas competências; por exemplo: as específicas de Linguagens e as específicas de Língua Portuguesa. No componente, são apresentadas as habilidades ligadas aos objetos de conhecimento de cada prática. Mais uma vez de forma inovadora, é preciso destacar que as habilidades são definidas a partir do trabalho com os textos que circulam nos diversos campos da atividade humana. Sendo assim, em cada campo, serão apontadas as habilidades de leitura, oralidade, escrita e análise linguística e semiótica.

Para organizar as habilidades ao longo dos anos, foi considerado o princípio da progressão curricular, ou seja, a demanda cognitiva das atividades fica mais complexa a cada ano. Isso implica considerar que um gênero, mesmo que apresentado no 9º ano pela Base, pode ser desenvolvido em anos anteriores referenciado em outras demandas, conforme as habilidades apontadas pelo documento. O que precisa ser garantido, portanto, é o desenvolvimento das habilidades previstas.

Outro destaque da BNCC é o trabalho com a gramática, uma vez que os objetos de conhecimento estão inseridos em um campo de atuação. Desde os PCN, está claro que não é mais possível que sejam analisadas as orações ou os períodos desvinculados dos textos. Todavia, não havia clareza de quais conteúdos deveriam ser desenvolvidos em quais textos. Além de a BNCC trazer um detalhamento em relação a isso, há dois pontos nevrálgicos que precisam ser considerados: o primeiro diz respeito à inserção da prática de linguagem, dos objetos de conhecimento e das habilidades em um campo de atividade. Observe:

Isso reforça a ideia de que não é mais possível ensinar a gramática por ensinar; mais importante do que classificar um período ou uma palavra é escolher o período ou a palavra que atenda à intencionalidade de quem escreve ou fala o texto, produzido em dada situação de comunicação e em um determinado campo de atuação. Além do mais, é preciso considerar as escolhas da BNCC: não será desenvolvida apenas uma análise linguística mas também semiótica, já que o documento aponta para a necessidade de análise das múltiplas linguagens, como requer o estudo dos gêneros digitais, que pede exame do formato, das cores, do tamanho de letra, som, movimento etc.

É importante destacar que, ao final dos quadros de todos os campos desenvolvidos em todos os anos, são apresentados os objetos de conhecimento de análise linguística e semiótica que podem ser estudados em todo e qualquer campo, ou seja, em qualquer gênero. Isso significa que o importante é o aluno compreender a relação entre as escolhas gramaticais e a construção de sentido. Essa compreensão será fundamental para que o aluno seja competente também para fazer as escolhas dele.

Vale ressaltar, ainda, outro ponto positivo da BNCC: as habilidades serão apresentadas de forma articulada. O que isso significa? Significa que, para desenvolver a prática de escrita, por exemplo, são mobilizadas habilidades do estudo da língua, da leitura, da semiose. Observe:

(EF69LP08) Revisar/editar texto produzido – notícia, reportagem, resenha, artigo de opinião, dentre outros –, tendo em vista sua adequação ao contexto de produção, a mídia em questão, características do gênero, aspectos relativos à textualidade, a relação entre as diferentes semioses, a formatação e uso adequado das ferramentas de edição (de texto, foto, áudio e vídeo, dependendo do caso) e adequação à norma culta. (BRASIL, 2017, p. 143)

A habilidade de produção de texto está articulada a várias outras, já que mobiliza outras atividades cognitivas do aluno: uso de recursos de textualidade, formatação, uso da norma culta. A aula precisará levar à reflexão: será preciso desenvolver atividades que deixem claro para o aluno que a produção faz parte de um campo de atuação, de um contexto específico. A gramática, nesse caso, será mobilizada para que seja avaliado o uso contextualizado. Na organização das habilidades, ainda é importante apontar o uso dos modificadores. Por exemplo:

(EF69LP15) Apresentar argumentos e contra-argumentos coerentes, respeitando os turnos de fala, na participação em discussões sobre temas controversos e/ou polêmicos. (BRASIL, 2017, p. 145)

O verbo “apresentar” indica o processo cognitivo que o aluno deve realizar; ele é seguido pelo complemento, que aqui anuncia o objeto de conhecimento: os “argumentos e contra-argumentos”. Mas além disso o período conta com modificadores, que, no caso, apontam uma particularidade que se refere ao contexto no qual se espera que o aluno mobilize essa aprendizagem: “respeitando os turnos de fala” e “na participação em discussões sobre temas controversos e/ou polêmicos”.

BNCC inova. Traz para a sala de aula os multiletramentos, ou seja, a ideia de que a escola deve abrir as portas para os textos multimodais e para a multiculturalidade. Isso significa que os novos textos, as novas leituras, as novas práticas que estão surgindo da sociedade contemporânea não podem ser ignoradas. É preciso garantir que a Educação se abra para as múltiplas vozes que formam a sociedade, o que fará com que o diálogo se afine e os conflitos possam ser discutidos de forma produtiva. Somente um posicionamento como esse será capaz de levar os alunos a aprendizagens significativas, a participações sociais reflexivas e críticas. E, mais do que isso, somente um trabalho que se abra para os gêneros populares, eruditos, digitais, gêneros com autoria, sem autoria, enfim, a todos os gêneros que circulam diariamente em todos os espaços tornaria a escola viva.

Por Paula Marques

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